Bem-estar: 90% trocariam de emprego por saúde mental, satisfação ou felicidade, diz pesquisa
Entre os principais fatores citados como mais prejudiciais à saúde mental no ambiente de trabalho são lideranças tóxicas, cobranças excessivas e falta de reconhecimento.
90% dos profissionais brasileiros consideraram trocar de emprego por motivos de saúde mental, satisfação ou felicidade no trabalho, de acordo com pesquisa da Infojobs.
A pesquisa realizada em setembro deste ano indica que 56% dos entrevistados não estão felizes no atual ambiente de trabalho e 62% não se sentem psicologicamente seguros em suas empresas.
O levantamento também mostra que os fatores mais prejudiciais à saúde mental no ambiente de trabalho são lideranças tóxicas (66%), cobranças excessivas (41%) e falta de reconhecimento (40%).
Hosana Azevedo, chefe de recursos humanos do Infojobs, afirma que há uma tendência entre profissionais e a forma com que enxergam sua carreira.
“As pessoas não estão mais dispostas a sacrificar seu bem-estar em troca de um salário. Elas querem trabalhar em ambientes que promovam equilíbrio e respeito ao seu estado emocional.”
A pesquisa também revela que 83% dos entrevistados precisaram ou conheceram alguém que precisou de afastamento do trabalho por questões de saúde mental. Em 86% desses casos, os profissionais afirmaram que a empresa não estava preparada para lidar com a situação.
Em relação às medidas empresariais para lidar com temas de saúde mental, 71% dos profissionais afirmaram que em seu local de trabalho não há ações ou suporte relacionados ao tema.
Já entre os 29% que trabalham em empresas que possuem ações voltadas ao tópico de saúde mental, suporte com psicólogos é a medida mais comum, com 67%. Rodas de conversa sobre o tema também estão presentes entre as ações empresariais, com 41%.
Fonte: CNN
Um marco na lei brasileira e um desafio para RHs e governo
A recente
Lei 14.831, sancionada em 27 de março de 2024, estabelece um importante marco ao introduzir o Certificado de Empresa Promotora da Saúde Mental. Essa legislação visa incentivar as empresas a adotarem políticas eficazes de promoção da saúde mental e do bem-estar entre seus colaboradores.
Para garantir sua efetividade, torna-se fundamental uma apurada regulamentação a fim de estabelecer critérios objetivos para a avaliação das empresas aptas a receber a certificação. Essa abordagem protege os direitos dos trabalhadores e institui padrões de responsabilidade corporativa e aplicação de iniciativas voltadas à saúde mental.
Para o recebimento da certificação, recomenda-se a adoção de parâmetros empíricos e mensuráveis para atestar a eficácia e consistência das iniciativas empreendidas. Para tanto, é salutar que as empresas desenvolvam ações e políticas fundamentadas em três diretrizes: Promoção da Saúde Mental, Bem-estar dos Colaboradores; e Transparência e Prestação de Contas.
Considerando que a Promoção do Bem-estar Psíquico pode envolver múltiplos aspectos, concomitantes ou não, é indicado que as empresas estabeleçam a implementação de: programas de bem-estar emocional no ambiente de trabalho; acesso a apoio psicológico e psiquiátrico; educação contínua e conscientização sobre o equilíbrio cerebral; foco especial na estabilidade emocional da mulher; capacitação de lideranças; treinamentos regulares sobre o vigor cerebral no contexto corporativo; iniciativas para combater o estigma associado aos transtornos psíquicos; e avaliação sistemática e acompanhamento das políticas implementadas.
O leque de medidas desse estrato intenta a viabilização de um suporte holístico ao funcionário, complementado pelas demais segmentações e respectivas linhas de ação.
Tamanha seriedade do tema e complexidade desse tipo de iniciativa requer cuidadosa avaliação interna, bem como a análise criteriosa dos órgãos federais. Estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido a problemas de saúde mental, que custam à economia global cerca de US$ 5 trilhões a cada ano, segundo avaliações mais recentes
[1].
Esse número é impactante e revela mais um desafio: o selo de Certificado de Empresa Promotora da Saúde Mental deve ser um símbolo de compromisso real e não um mero prêmio de aparência. É necessário incluir mecanismos de auditoria e revisão contínua, para garantir que as práticas de saúde mental não sejam apenas implementadas de forma superficial.
Isso inclui a exigência de relatórios detalhados e verificáveis das empresas sobre suas políticas e resultados, e a realização de inspeções regulares para validar a conformidade.
Adicionalmente, órgãos federais devem combater o risco de subnotificação, onde empresas poderiam minimizar ou omitir dados relevantes para manter o selo. Para isso, será crucial que o sistema de avaliação adote indicadores claros e mensuráveis, e que haja penalidades severas para práticas fraudulentas ou para empresas que não cumpram de fato com os requisitos estabelecidos.
Transparência e responsabilidade serão fundamentais para assegurar que o selo de certificação represente um verdadeiro avanço na promoção da saúde mental e não um simples selo decorativo.
A Lei 14.831/24 representa um avanço substancial na legislação trabalhista brasileira ao colocar a saúde mental e o bem-estar dos colaboradores como prioridade nas agendas corporativas.
Com uma regulamentação criteriosa e a participação ativa da sociedade civil em sua formulação, podemos garantir que as empresas adotem práticas que não apenas cumpram os requisitos legais, mas também promovam um ambiente de trabalho saudável e sustentável para todos.
Este avanço não apenas beneficia individualmente os trabalhadores, mas também contribui para uma economia mais robusta e uma sociedade mais justa e equitativa.
[1] Quantifying the global burden of mental disorders and their economic value – Arias, Daniel et al. eClinicalMedicine, Volume 54, 101675 –
https://www.thelancet.com/journals/eclinm/article/PIIS2589-5370(22)00405-9/fulltext
Fonte: Wagner Farid Gattaz é Médico psiquiatra e chairman da Gattaz Health
Simpesc nas redes sociais