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Gestão: Segurança e Saúde no Trabalho – 49

08 de dezembro de 2023
Informativo
Companhias erram ao pensar a saúde mental

Publicado em 7 de dezembro de 2023

Por Claudio Garcia.

Chegando ao final de 2023, se existe algo que podemos destacar, ainda que de forma generalizada, é a incapacidade das organizações de cuidar da saúde mental de seus profissionais.

Pesquisas recentes mostram que, mesmo depois da pandemia, tem crescido a quantidade de indivíduos com problemas de saúde mental, constante ansiedade e menor engajamento no trabalho.

Isso apesar de as empresas terem investido muitos recursos para ajudar seus profissionais com o tema. Mas, programas de meditação, acesso a academias, apps de suporte terapêutico, programas de desenvolvimento de líderes, entre outras iniciativas, têm pouco mudado essa realidade.

Não é incomum insistirmos em um caminho mesmo quando a fonte do problema está em uma direção completamente diferente. Nesse caso, a grande maioria das intervenções para resolver o problema da saúde mental são focadas nos indivíduos. Não que sejam inúteis. Mas são quase como tentar enxugar gelo.

Observe, por exemplo, resiliência pessoal – capacidade de retornar ao estado anterior depois de passar por experiências difíceis. Nos últimos três anos, ações sobre esse tema foram compulsivamente adotadas por organizações, que ofereceram treinamentos, práticas mentais e físicas prometendo aumentar a resiliência das pessoas.

Entretanto, é conhecido na psicologia que existe um limite até onde podemos superar dificuldades. Não à toa, traumas, danos psíquicos e até físicos são realidades da nossa condição humana. Uma coisa é pular de uma altura de um metro.

O impacto criará microfissuras musculares e nos ossos que, ao serem recompostos, tornarão o corpo mais resistente. Mas pular de dez metros, com grande probabilidade, lhe deixará, no mínimo, com sequelas irrecuperáveis.

E é isso que, de certa forma, organizações estão fazendo: forçando pessoas a pular de alturas maiores do que a sua capacidade de se recuperar.

A maioria dos modelos de gestão operam primariamente sob essa ótica da eficiência do indivíduo. A performance do todo é a soma das performances individuais, o que se reflete em praticamente todos os processos empresariais como orçamento, alocação de recursos, gestão de performance, seleção, promoção, etc.

Agora pense de outra forma. Em equipes saudáveis, se uma pessoa, por algum motivo, não tem condições de realizar sua parte, é mais fácil compensar sua participação pelo grupo do que esperar que ela se recupere.

Resiliência para equipes (ou organizações) possui lógicas diferentes daquela para os indivíduos. Equipes têm o potencial de serem mais adaptáveis e, portanto, mais resilientes do que grupos de indivíduos. Têm também a possibilidade de serem mais eficientes e mais criativas do que a soma das partes. Mas exigem um paradigma diferente de gestão.

Um paradigma que também apresenta possibilidades de saúde mental e física bem mais sustentáveis, já que opera sob a ótica da eficiência do grupo, não do indivíduo. Em vez do foco excessivo nos indivíduos seria mais efetivo modernizar sistemas de gestão que interpretam pessoas como engrenagens cada vez mais pressionadas, que deveriam ser capazes de suportar tudo, mas que as levam à exaustão.

E entendê-las simplesmente como… pessoas! De carne e osso, com limites, mas capazes de surpreender de muitas formas, principalmente quando trabalhando juntas. Entendimento que, pelo menos no mundo das organizações, poucos ainda têm.
Fonte: Valor Econômico

 
 
 


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