Poucos sabem ouvir feedbacks
Publicado em 17 de agosto de 2023
Por Rafael Souto
O colunista Rafael Souto explica como receber de forma construtiva as observações feitas pelo gestor.
Na soma de exigências que são feitas aos gestores de equipes, a importância de dar feedbacks tem sido destaque recorrente. Os desafios de negócios e de performance fazem com que os feedbacks sejam essenciais.
A necessidade de desenvolver pessoas é crescente. Líderes vêm sendo cada vez mais cobrados a agirem como formadores de pessoas. Devem preparar novos líderes e desenvolver seus times. Esse papel de educador passa por conversas mais frequentes.
Na mesma linha, profissionais afirmam querer mais feedbacks para aprimorar seu desenvolvimento. A arte de saber ouvir e processar as informações, no entanto, é uma rara habilidade.
Recente estudo da “Harvard Business Review” mostrou que 78% das pessoas dizem que feedbacks são fundamentais, mas apenas 26% o utilizam de fato para o desenvolvimento.
Outro estudo conduzido pelo Instituto Gallup mostrou que apenas 25% dos entrevistados acreditam que os feedbacks os motivam a realizar um trabalho melhor. O medo de julgamento está entre os principais motivos que geram essa incapacidade de ouvir feedbacks.
Vivemos a era dos “likes” em que todos buscam aceitação e reconhecimento constantes. Receber feedback de algo que não está indo bem pode soar como uma bomba para muitos, gerando sentimentos de rejeição e perseguição.
Receber feedbacks construtivos requer habilidades de escuta ativa e empatia. A falta dessas habilidades pode dificultar a compreensão das críticas de forma produtiva. Para desenvolver essa habilidade é necessário cultivar uma mentalidade de crescimento. Encarar feedbacks como oportunidades de aprendizado e desenvolvimento, em vez de críticas pessoais, pode ajudar a reduzir a aversão.
A mentalidade de crescimento é a ideia de que estamos sempre aprendendo. A jornada do desenvolvimento é permanente e em todas as fases da carreira.
Desenvolver a habilidade de escuta ativa permite compreender melhor o feedback. Isso envolve concentrar-se genuinamente no que está sendo dito, fazer perguntas clarificadoras e demonstrar interesse em melhorar. Mesmo que feito com limitações ou muitas vezes em uma forma não ideal, é necessário extrair reflexões do que foi dito.
É essencial construir metas profissionais. Decodificar o feedback e transformá-lo em plano de ação é característica essencial de um profissional responsável pela gestão de sua carreira.
O gestor pode apoiar, mas cabe a cada um construir metas de desenvolvimento. Definir metas claras ajuda a contextualizar os feedbacks recebidos e permite direcionar os esforços para áreas específicas que necessitam de melhoria.
A dificuldade de muitos em receber feedbacks construtivos pode impactar negativamente o crescimento e o desenvolvimento.
Reconhecer a importância do feedback, compreender as razões por trás da aversão em ouvir e adotar estratégias para lidar com esse desafio são passos relevantes para aproveitar ao máximo as oportunidades de aprendizado proporcionadas por essa ferramenta valiosa.
Enfrentar essa barreira pode resultar em um ambiente de trabalho mais produtivo, colaborativo e voltado para o desenvolvimento individual e organizacional.
Vivemos uma época de uma perigosa e crescente terceirização de responsabilidades, como se tudo fosse culpa do líder, da área de recursos humanos e das instituições. Em que pese existirem líderes com enorme dificuldade em fazer conversas de desenvolvimento, cabe ao protagonista aproveitar as oportunidades para refletir e buscar mentores para se inspirar.
Saber gerenciar o chefe e lidar com as limitações da gestão faz parte do trabalho. Não podemos idealizar a liderança e o ambiente corporativo.
Receber um feedback é um presente raro. Saber ouvir e decidir o que fazer com ele é a arte que cabe ao protagonista na carreira.
Fonte: Valor Econômico
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