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Gestão: Pessoas e Trabalho – 57

25 de maio de 2020
Informativo
Novidade para mais da metade das empresas, trabalho remoto agradou a 80% dos gestores brasileiros

Pesquisa realizada pelo ISE Business School mostra que, superadas as dificuldades iniciais, home office aumentou a produtividade de 60% dos entrevistados e ainda fortaleceu os laços familiares de 90% deles.

Desde março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou situação de pandemia pelo novo coronavírus, empresas de todos os segmentos precisaram adaptar suas dinâmicas de trabalho às medidas de isolamento social recomendadas pelas autoridades.

Com isso, os olhares se voltaram para o trabalho remoto, que ainda não era uma realidade para 51% das empresas em funcionamento no Brasil. Agora, após o choque inicial, 80% dos gestores dizem que gostaram da nova maneira de trabalhar, de acordo com uma pesquisa realizada pelo ISE Business School a que o Estadão teve acesso com exclusividade.

“O futuro do trabalho é agora. Mudanças que aconteceriam daqui a cinco, dez anos, já estão acontecendo”, diz Cesar Bullara, diretor e professor do departamento de gestão de pessoas do ISE. Segundo ele, a partir de agora, o mundo corporativo vai se adequar a essa nova realidade, que veio para ficar.

Das empresas que ainda não adotavam o home office, 65% são familiares e brasileiras. As outros 35% são multinacionais. Amélia Caetano, consultora especializada em trabalho remoto no Instituto Trabalho Portátil, diz que as multinacionais já estavam mais bem preparadas, principalmente do ponto de vista tecnológico, e as empresas nacionais tinham investido pouco nesse sentido. Para ela, eventos inesperados, como a chegada do novo coronavírus, têm essa capacidade de “antecipar” o futuro.

A pesquisa também aponta que quase 90% dos gestores afirmam que o trabalho remoto os levou a valorizar e fortalecer os laços com a família.

Adriana Santana é diretora de Recursos Humanos da Elanco Brasil e Cone Sul, empresa de saúde e nutrição animal. Casada e com dois filhos, de 9 e 10 anos, o período de isolamento social tem sido de constante adaptação. “Já trabalhávamos de forma mais flexível na empresa, mas esse é um desafio, porque agora os quatro estão em casa”, disse ela.

Segundo Adriana, foi necessário adequar a agenda da empresa à dinâmica da família: “Foi difícil, mas bloqueei algumas horas do dia para reservar momentos com eles. Para meus filhos, foi confuso de repente ter os pais em casa e, ao mesmo tempo, não ter a nossa atenção total.” A rotina melhorou depois que os filhos passaram a ter aulas online e se acostumaram com a nova forma de estudar: “É realmente um processo de adaptação.”

Esse processo deve continuar até o retorno ao trabalho presencial. “Estávamos comentando com meu filho sobre um futuro retorno e ele falou: ‘prefiro você aqui o dia todo em reunião do que no escritório, porque pelo menos aqui eu te vejo’”.

No trabalho, uma das maiores preocupações de Adriana como gestora é entender as necessidades de cada um dos funcionários e, assim, procurar ajustar a dinâmica de trabalho: “Tivemos que mudar, por exemplo, o horário de algumas reuniões para que os colaboradores que têm filhos possam dar a assistência que eles precisam em determinado momento”.

Competências

Segundo os dados do ISE Business School, a flexibilidade foi apontada como uma das competências mais desenvolvidas neste período, citada por 81% dos entrevistados. A habilidade só fica atrás da resiliência, a capacidade de superar dificuldades, mencionada por 82% dos gestores. Outras competências destacadas pela pesquisa foram autodisciplina e confiança mútua, que é a construção de relações interpessoais confiáveis e francas com o chefe e outros membros de uma equipe.

Para o professor Cesar Bullara, a situação pode fazer com que a relação entre gestores e colaboradores suba para outro patamar: “Se ainda era essencial para algumas pessoas essa questão do comando e controle, em que a presença física era sinônimo de produtividade, isso mudou”.

A especialista em trabalho remoto Amélia Caetano diz que os gestores precisam se preparar para acompanhar as tarefas e entregas, não o tempo que o funcionário passa trabalhando: “Muitos líderes se viram nessa nova situação e estão vendo que funciona”.

Renato Camargo, responsável pela operação da fintech Recarga Pay no Brasil diz que “o momento não é de oportunidade, e sim de sensibilidade”. Mesmo que a empresa já tenha nascido digital e que a flexibilidade do trabalho remoto e presencial já fizessem parte do cotidiano, para ele “é tudo um processo muito novo. O distanciamento e o fato de não ter os colaboradores perto não é fácil”.

Ele conta que o sentimento de insegurança e as dúvidas que as pessoas têm neste momento sobre o futuro – não só relacionadas ao trabalho, mas à própria saúde e à de familiares – exige uma postura diferente dos líderes. “É preciso cuidar mais da gestão do comportamento e da saúde mental dos colaboradores. Deixar que eles tragam o resultado, se preocupar menos com as metas e mais com a saúde deles.”

Produtividade

De acordo com a pesquisa do ISE, o home office ajudou a melhorar a eficiência e a produtividade de cerca de 60% dos entrevistados. Ainda que os dados já sejam positivos neste primeiro momento do isolamento social, Amélia Caetano diz que não estamos na melhor fase da produtividade, uma vez que a imprevisibilidade da pandemia traz angústia e dificuldade emocional. Esses fatores foram apontados como altos e muito altos por 20% dos entrevistados do ISE.

Segundo Adriana Santana, diretora de RH, “existe uma preocupação com as pessoas que estão sozinhas, que podem trabalhar muito, o que não é correto. É preciso encontrar um equilíbrio”. Isso é o que Camargo, da Recarga Pay, também tem procurado: “Agora tenho horário para abrir e fechar o computador e peço para que a minha equipe também siga isso. Em casa, a tendência é ir ficando, ficando, trabalhando mais. As pessoas não podem fazer isso. E o exemplo vem da liderança”.

Sobre a adesão ao trabalho remoto pelos gestores pós-pandemia, Natália de Castro, professora de Gestão de Pessoas, Contabilidade e Controle e Responsabilidade Social do ISE, diz que “essa circunstância que estamos vivendo vai mudar e reconfigurar essa modalidade de trabalho. Ao interpretar esses dados, temos que ter em mente que é uma realidade que ainda está acontecendo, não é algo que já passamos e estamos vendo o pós.

Estamos vislumbrando um pouco do futuro”.
Fonte: Estadão

 

Volume de ações trabalhistas volta a crescer com a pandemia

Sem dinheiro em caixa para se manterem, empresas estão demitindo sem pagar as verbas rescisórias, como a multa de 40%

Ao longo dos últimos 30 dias, 455 trabalhadores entraram na Justiça diariamente alegando que foram demitidos em função da crise do novo coronavírus. Eles afirmam que, após a dispensa, não receberam o conjunto ou parte das verbas rescisórias obrigatórias, compostas pelo aviso prévio, férias vencidas e proporcionais, 13º salário e a multa de 40% aplicada ao FGTS.

O total acumulado de cerca de 10 mil processos corresponde a pouco mais de 20% das 48.655 ações protocoladas na Justiça trabalhista entre 21 de abril e 20 de maio. Segundo juristas e advogados, o fenômeno acontece porque as empresas, principalmente de pequeno porte, estão cortando vagas sem caixa para arcar com as despesas geradas pelas demissões.

Os dados fazem parte de uma ferramenta lançada pela Fintedlab e pela Datalawer, startups especializadas em monitoramento de dados na Justiça. As empresas desenvolveram robôs que leem as publicações dos processos distribuídos na Justiça do Trabalho para estabelecer os pontos centrais dessas demandas.

Desde meados de março, quando começou a pandemia, já foram protocoladas 18.163 ações desse tipo. “O que percebemos é que, conforme avançam os casos de infecção, também crescem os de processos na Justiça do Trabalho”, diz o fundador da Fintedlab, Alexandre Zavaglia.

O valor total das causas solicitadas em função da pandemia passa hoje dos R$ 920 milhões, com valor médio de R$ 50.748 por processo, segundo dados de quarta-feira, 20.

O maior volume solicitado, aponta a ferramenta, é proveniente das ações individuais: R$ 654,37 milhões, de 16.673 ações judiciais; contra R$ 267,36 milhões, de 1.490 ações coletivas.

MULTA DE 40%

Uma dessas ações foi proposta pelo metalúrgico Guilherme Silva Adegas, demitido no dia 31 de março de uma empresa de Campinas (SP), onde trabalhava com usinagem de peças há cinco anos. Ele afirma no processo que tinha direito a uma rescisão de R$ 20 mil, mas recebeu cerca de R$ 13 mil. “Não me pagaram os 40% do FGTS e o aviso prévio”, afirma Adegas.

“Esse é um problema que afeta principalmente as empresas de menor porte”, afirma o advogado Carlos Eduardo Dantas Costa, do escritório Peixoto & Cury.

“As grandes empresas acabaram se beneficiando da MP 936, que estabeleceu redução de jornada e salário. As pequenas ficaram sem dinheiro para nada”, diz Cleber Venditti da Silva, do Mattos Filho Advogados.

Entre os setores que mais acumulam processos pelo não pagamento de verbas rescisórias na Justiça durante a pandemia está o de comércio varejista, bares e restaurantes, com 119 ações protocoladas diariamente nos últimos 30 dias. O segmento foi um dos primeiros a serem impactados com as medidas de restrição de circulação e, mesmo aplicando a medida provisória 936, que criou a redução de salários, demitiu ao menos 1 milhão de trabalhadores desde o início da crise, segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurante (Abrasel).

O setor só perde para o de indústria de transformação em número de ações diárias (155 processos), e é seguido pelo segmento de serviços financeiros (74 processos) e pelos trabalhadores de transportes (47).

Dono de oito estabelecimentos em São Paulo, entre eles os bares Quintana e Veríssimo, Marcos Livi já demitiu 89 funcionários desde março. Hoje, dos 205 que restam, só 40 estão em atividade, nas operações de delivery. Os demais estão com contrato suspenso. “Tenho conhecimento de gente que já está demitindo sem caixa para pagar”, diz. “Ninguém tem dinheiro para mandar embora todo mundo. Eu mesmo seguro como está até julho. Se não retomar a atividade até lá, eu quebro em agosto e não tenho como pagar ninguém.”

NA CONTA DOS GOVERNADORES

Entre as empresas que demitiram sem pagar integralmente as verbas rescisórias em função da pandemia foi a churrascaria Fogo de Chão, que desde 2018 pertence ao fundo de investimentos americano Rhône Capital.

A rede demitiu 436 funcionários em suas oito unidades, e pagou cerca de 80% dos direitos trabalhistas. Mas, neste caso, o motivo não é falta de caixa. A conta dos 20% que restam, uma parte da multa de 40% aplicada aos depósitos do FGTS, o fundo diz que mandará aos governadores estaduais.

A Fogo de Chão quer, com isso, aplicar um expediente jurídico conhecido como “fato do príncipe”, que rege o artigo 486 da CLT, segundo o qual em caso de paralisação deliberada pelo governo municipal, estadual ou federal, os encargos trabalhistas ficariam com o ente público.

Entre advogados, a expectativa é que a medida da Fogo de Chão acabe na Justiça. Para o sócio do Mattos Filho Advogados, Cleber Venditti da Silva, dificilmente a decisão será favorável à companhia. “Esse é um assunto que surgiu forte entre as empresas. Mas eu não estou recomendando essa estratégia por acreditar que o Judiciário não vá acolher o ‘fato do príncipe’, já que a restrição de circulação é por motivo de saúde, de força maior.”

Mesmo assim, entre empresários do setor existe uma expectativa a respeito do fim dessa história. Se a Fogo de Chão conseguir transferir parte da conta da rescisão para os governadores, a tendência é de que outros empresários sigam pelo mesmo caminho.

“Eu não gosto da medida, porque acho que o governo vai encontrar uma forma de não pagar os trabalhadores. Mas, se não tiver jeito, como último expediente, eu entro com esse ‘fato do príncipe'”, diz o fundador da pizzaria 1900, Edrey Momo. Ele mesmo conta que demitiu 110 de seus 400 funcionários e, sem dinheiro para pagar todas as rescisões, dividiu a conta em seis parcelas.

“Foi uma espécie de licença poética que adotei, porque ninguém tem dinheiro para mandar 110 pessoas nesse mercado. Então pode ser que eu ainda tenha algum passivo na Justiça Trabalhista em função disso”, afirma.
Desde o início da escalada da pandemia, há 60 dias, o número de processos em geral na Justiça Trabalhista caiu a um quarto na comparação com o mesmo período de 2019.

“Na verdade, a Justiça está operando com parte de sua capacidade, apenas (em função das medidas de isolamento social). Vamos observar um estouro de processos daqui para frente relacionados ao coronavírus”, diz a desembargadora Ana Flávia de Moraes Garcia Cuesta, do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, em Campinas.

Os prazos para os processos em trânsito na Justiça foram retomados no início de maio, após suspensão por um mês pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Além disso, os escritórios estão operando em sistema de home office, o que dificulta o acesso aos advogados pelos trabalhadores com demandas judiciais.
Fonte: Diário do Comércio SP
 
 


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