Como gerenciar conflitos no ambiente de trabalho
Publicado em 15 de abril de 2024
Por Gabriela Bonin
Newsletter FolhaCarreiras lista principais causas de desentendimentos e explica como agir de forma profissional.
O trabalho muitas vezes é um ambiente propício para o surgimento de conflitos. Como, então, saber gerenciá-los?
Antes… Há dois tipos diferentes de conflitos, explicam os especialistas, e apenas um deles é ruim.
O que é saudável: o embate de ideias. Geralmente acontece durante a execução de um projeto ou em um brainstorming, por exemplo, quando duas pessoas defendem pontos de vista diferentes, às vezes opostos.
“Discordar ou fazer outra pessoa repensar é algo positivo. Pode ajudar o negócio a crescer”, pontua Ana Paula Prado, CEO do Infojobs e porta-voz do Pandapé.
O que é inadequado: quando os atritos extrapolam o profissional e afetam os colaboradores em um nível pessoal. Isso costuma tornar o ambiente menos saudável, pois normalmente as discussões contam com linguagem inadequada e postura agressiva.
Para evitar conflitos, é preciso saber de onde eles vêm. Entenda as principais causas:
Má gestão de expectativas. É a falta de alinhamento sobre o que as lideranças esperam dos colaboradores, diz Kari Silveira, co-fundadora da Impulso. “É a gestão mal feita de combinados. São pequenos atritos, alguns vão se acumulando no dia a dia, outros afloram e explodem”, explica.
Comunicação. Olha ela aí, sempre presente. Conflitos podem surgir quando a comunicação é uma via de mão única, sem espaço para as pessoas discutirem ou serem ouvidas, de acordo com Adriana Gattermayr, coach executiva e especialista em liderança.
↳ Adotar linguagem inadequada no ambiente de trabalho, como palavrões ou postura agressiva, também é um problema.
“Vai desde a pessoa que sempre chega atrasada nas reuniões, a que nunca entrega no prazo, aquela que fala demais na reunião e não deixa ninguém falar, ou a que sempre está com uma ideia completamente contrária à de todo o mundo, mas não explica o porquê”, exemplifica Silveira.
Esses pequenos descombinados ou divergências não explicadas podem crescer até virar um conflito, conclui.
Então, o que fazer em caso de desentendimentos no trabalho?
Tente-se distanciar. No calor do momento, tudo se potencializa, diz Gattermayr. De acordo com ela, acalmar os ânimos, refletir sobre o que aconteceu e levar sua mente para um lugar mais tranquilo pode te dar o discernimento necessário para encontrar caminhos de resolver a situação.
Comunicação clara. Se ela é a causa do problema, é também a solução. “Ao expressar suas preocupações, seja claro e objetivo, evitando linguagem acusatória. Mostre empatia ao ouvir o ponto de vista do colega e demonstre que você valoriza suas opiniões”, indica Ana Paula Prado, do Infojobs.
Você não precisa omitir nada. Não é errado estar bravo ou frustrado, comenta Gattermayr. Você pode comunicar que está chateado com uma situação no trabalho, mas deve fazer isso com a postura e voz calmas.
Identifique a raiz do problema. Muitas vezes, os desentendimentos têm raízes mais profundas relacionadas a expectativas não atendidas, falta de comunicação ou diferenças de estilo de trabalho, diz Prado. “Ao identificar a raiz, você estará mais apto a encontrar soluções duradouras.”
Envolva um terceiro, se preciso. O melhor é sempre tentar resolver o conflito entre as pessoas que participaram dele, argumenta a CEO. Caso não seja possível, a presença de um mediador neutro —um chefe ou o RH— pode ajudar a encontrar uma solução.
Estabeleça acordos e compromissos. Superado o problema, formalize as soluções por escrito, indica Prado. “Isso ajuda a criar responsabilidade e fornece um documento de referência para futuras discussões”, explica.
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Alô, liderança. Gestores têm papel crucial nessa história toda. As empresas precisam refletir sobre os comportamentos dos colaboradores e trabalhar para criar um ambiente menos propício ao conflito. Se os conflitos são muito frequentes, o problema pode estar na cultura organizacional.
Um pouco sobre a CEO: é formada em engenharia mecânica aeronáutica pelo ITA e fez MBA e mestrado na Universidade de Stanford. Atuou por mais de 12 anos na criação de produtos digitais em empresas de tecnologia, como a brasileira Geekie e as americanas BetterUp e Quizlet.
Qual conselho daria para um profissional em início de carreira?
Valorize a sua origem, trajetória e forma única de ver o mundo. Acredite que a inovação nasce ao vermos as coisas por outro ângulo —ainda que possa ser incômodo ser uma voz dissonante de todos ao redor. Por isso, nunca deixe morrer o interesse genuíno em aprender e busque conectá-lo com um desapego que te permita se reinventar quantas vezes for preciso.
Para falar sobre oportunidades de crescimento na empresa:
Evite: questionar sobre o plano de carreira da empresa para o funcionário.
Por quê? “O plano de carreira é responsabilidade do colaborador. A organização pode oferecer cursos ou direcionamento, mas o planejamento é do candidato”, explica Jaqueline Garutti, consultora de carreira e liderança.
Prefira perguntas como:
Quais são as práticas de capacitação e desenvolvimento oferecidas aos colaboradores?
Como a empresa apoia o crescimento profissional da equipe?
Como as promoções são tratadas dentro da organização?
Quais são as oportunidades de aprendizado e desenvolvimento nesta função?
Para onde costumam progredir os profissionais bem-sucedidos nesta empresa?
Fonte: Folha de São Paulo
O futuro do trabalho na era da IA
Publicado em 15 de abril de 2024
Por Eric Posner
Desafio de longo prazo da IA pode ser preservar empregos num mundo em que o trabalho humano não é mais valorizado.
Discussões sobre as consequências da inteligência artificial para o emprego têm oscilado entre os polos do apocalipse e da utopia. No cenário apocalíptico, a IA deslocará uma grande parte de todos os empregos, ampliando imensamente a desigualdade à medida que uma pequena classe detentora de capital obtém excedentes produtivos anteriormente compartilhados com trabalhadores humanos.
O cenário utópico, curiosamente, é o mesmo, exceto que os muito ricos serão forçados a compartilhar seus lucros com todos os outros por meio de um programa de transferência de renda básica universal ou coisa parecida. Todos desfrutarão de abundância e liberdade, alcançando finalmente a visão de Marx do comunismo.
A hipótese comum em ambos os cenários é que a IA aumentará muito a produtividade, forçando até mesmo médicos, programadores de software e pilotos de avião bem pagos a partir para assistência social ao lado de motoristas de caminhão e caixas de supermercado.
A IA não só vai criar código melhor do que um programador experiente; ela também fará melhor qualquer outra tarefa para a qual esse programador possa ser treinado novamente. Porém, se tudo isso for verdade, a IA gerará uma riqueza inédita que até o sibarita mais extraordinário teria dificuldade de esgotar.
Os cenários distópico e utópico reduzem a IA a um problema político: se os deixados pra trás (que terão a vantagem de ser um grande contingente) vão conseguir forçar os magnatas da IA a dividir sua riqueza. Temos motivo para ser otimistas.
Primeiro, os ganhos da IA nesse cenário seriam tão extravagantes que os super-ricos podem não se importar em abrir mão de alguns dólares marginais, seja para comprar sua própria paz de espírito ou a paz social.
Em segundo lugar, a massa crescente dos deixados para trás incluirá pessoas altamente educadas e politicamente engajadas que se juntarão à tradicionalmente deixadas para trás na mobilização por redistribuição.
Mas há também uma questão mais profunda. Como as pessoas responderão, psicológica e politicamente, à constatação de que não podem mais contribuir para a sociedade por meio do trabalho remunerado? A participação na força de trabalho já vem diminuindo de modo significativo desde a década de 1940 para os homens e, embora as mulheres tenham entrado na força de trabalho em grande número apenas nas décadas de 1970 e 1980, a taxa de participação delas também começou a diminuir.
Isso pode muito bem ser reflexo de uma tendência de pessoas na base perdendo a capacidade de converter seu trabalho em valor compensável à medida que a tecnologia avança. A IA pode acelerar essa tendência, defenestrando quem estiver no meio – e também no topo.
Os cenários distópico e utópico reduzem a IA a um problema político: se os deixados pra trás vão conseguir forçar os magnatas da IA a dividir sua riqueza. Mas há também uma questão mais profunda. Como as pessoas responderão à constatação de que não podem mais contribuir para a sociedade por meio do trabalho.
Se o excedente social for amplamente compartilhado, pode-se perguntar: “E daí?” No passado, os da classe alta evitavam aceitar empregos e desdenhavam de quem o fazia. Eles ocupavam seu tempo com caça, atividades literárias, festas, atividades políticas e hobbies – e parecem ter ficado bastante satisfeitos com sua situação.
Os economistas tendem a pensar no trabalho da mesma maneira, como simplesmente um custo (“c”) que deve ser compensado por um salário mais alto (“s”) para induzir as pessoas a trabalhar. Como Adão e Eva, eles implicitamente pensam no trabalho como um mal puro. O bem-estar social é maximizado por meio do consumo, não pela aquisição de “bons empregos”. Se isso estiver certo, podemos compensar as pessoas que perdem seus empregos simplesmente dando-lhes dinheiro.
Talvez a psicologia humana seja flexível o suficiente para que um mundo de abundância e pouco ou nenhum trabalho possa ser considerado uma dádiva, e não um apocalipse. Se os aristocratas do passado, os aposentados de hoje e as crianças de todas as épocas conseguem ocupar seu tempo com brincadeiras, hobbies e festas, talvez o resto de nós também possa.
Contudo, pesquisas indicam que os danos psicológicos do desemprego são significativos. Mesmo depois de ajustar pela renda, o desemprego está associado à depressão, alcoolismo, ansiedade, recolhimento social, ruptura das relações familiares, piores resultados para as crianças e até mortalidade precoce. A literatura sobre “mortes por desespero” fornece evidências de que o desemprego está associado a um risco elevado de suicídio e overdose.
O desemprego em massa ligado ao “choque da China” em algumas regiões dos EUA foi associado a riscos elevados à saúde mental entre os afetados. A perda de autoestima e um senso de significado e utilidade é inevitável numa sociedade que valoriza o trabalho e despreza os desempregados e desempregáveis.
Como tal, o desafio de longo prazo colocado pela IA pode ter menos a ver com redistribuir a riqueza e mais com preservar empregos num mundo em que o trabalho humano não é mais valorizado. Uma proposta é tributar mais a IA em relação ao trabalho, enquanto outra – defendida pelo economista do MIT David Autor – é usar recursos públicos para moldar o desenvolvimento da IA para que ela complemente o trabalho humano, em vez de substituí-lo.
Nenhuma das ideias é promissora. Se as previsões mais otimistas sobre os benefícios futuros de produtividade da IA estiverem corretas, uma taxa teria de ser assustadoramente alta para ter algum impacto. Além disso, é provável que as aplicações da IA sejam complementos e substitutos.
Afinal, as inovações tecnológicas geralmente aumentam a produtividade de alguns trabalhadores, enquanto eliminam as tarefas de outros. Se o governo intervier para subsidiar a IA complementar – digamos, algoritmos que melhorem a escrita ou a codificação -, poderá facilmente acabar tanto substituindo empregos quanto preservando-os.
Mesmo que impostos ou subsídios possam manter vivos empregos que produzam menos valor do que os substitutos da IA, só estarão adiando o dia do acerto de contas. As pessoas que obtêm autoestima de seus empregos o fazem em parte porque acreditam que a sociedade valoriza seu trabalho.
Uma vez que ficar claro que seu trabalho pode ser feito melhor e mais barato por uma máquina, elas não serão mais capazes de manter a ilusão de que seu trabalho é importante. Se o governo dos EUA tivesse preservado os empregos de fabricantes de chicotes quando os automóveis substituíram as carruagens, é de se duvidar que essas posições ainda trouxessem muita autoestima a qualquer um que as desempenhasse hoje.
Mesmo que os seres humanos sejam capazes de se ajustar a uma vida de lazer a longo prazo, as projeções mais otimistas de produtividade da IA pressagiam enormes mudanças de curto prazo nos mercados de trabalho, semelhantes ao impacto do choque da China.
Isso significa desemprego em grande escala – e, para muitas pessoas, permanente. Não há rede de segurança social generosa o bastante para proteger as pessoas dos impactos à saúde mental, e a sociedade da turbulência política, que resultaria de tal decepção e alienação generalizadas.
Fonte: Valor Econômico
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