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Gestão: Empresa e Sindicato – 40

07 de agosto de 2020
Informativo
Demissões devem ser feitas com responsabilidade

Publicado em 6 de agosto de 2020
Por Vicky Bloch

A colunista Vicky Bloch fala sobre a falta de assistência das empresas e do governo a quem está perdendo o emprego.

A demissão é muitas vezes comparada ao luto. Para uma parcela importante das pessoas, ela representa psicologicamente a morte da carreira e traz consigo sentimentos ligados a fracasso e incertezas.

Agora eleve esses sentimentos à mais alta potência ao pensar no medo da morte real que muitos enfrentam neste momento, diante de uma pandemia que já matou oficialmente cerca de 100 mil pessoas no Brasil. Isso tudo em uma situação de confinamento e falta de perspectivas sobre o futuro.

A crise gerada pela covid-19 vem trazendo consequências devastadoras para a economia, que já não andava bem, em especial no que diz respeito aos empregos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil registrou o nível mais baixo de ocupação da série histórica no primeiro trimestre deste ano, com 12,9% da população desempregada (12,7 milhões de pessoas). Menos da metade (49,5%) das pessoas em idade de trabalhar está ocupada.

Diariamente, tenho acompanhado casos de demissões em massa em empresas de vários portes. E, mais uma vez, vejo erros sendo cometidos por falta de sensibilidade no desligamento. Companhias que ainda olham para números e não para indivíduos.

E me questiono: será que as organizações estão aplicando no desligamento os mesmos valores que anunciaram quando contrataram esses funcionários, como respeito, ética e transparência? Esses mesmos valores que constam nos seus materiais institucionais e de marketing?

As organizações estão pensando nas consequências para a saúde mental e física dos indivíduos e suas famílias, além de sua capacidade de recolocação?

Vivemos uma nova realidade, mas os gestores consideram cenários de 30 anos atrás. Não é de se espantar que instrumentos como o Plano de Demissão Voluntária já não tenham tanta adesão. Qual seria o atrativo para alguém sair em plena pandemia? Será que um pacote em dinheiro é mesmo vantagem?

Repito aqui o que escrevi em um artigo em 2006. “Afinal, qual a responsabilidade de uma empresa em relação ao futuro de um ex-colaborador? No meu ponto de vista, é total. É isso que eu chamo de responsabilidade social praticada na íntegra.

Sem essa consciência, continuaremos um país hipócrita, com empresas que fazem ao público externo um discurso de inclusão, mas que não o admitem na comunidade interna, na fase mais crítica da vida de seus colaboradores”.

O processo de demissão é complexo e, na maior parte das vezes, inevitável numa situação como a que vivemos. Por isso não podemos colocar toda a responsabilidade sob os ombros das empresas, que foram pegas de surpresa. Muito menos das pequenas, que estão quebrando ou lutando para sobreviver.

O momento requer um esforço organizado do governo e da sociedade para encaminhar os profissionais demitidos para plataformas de suporte à recolocação, como para ajudar a identificar possibilidades de empreender. Isso não é importante só para os indivíduos, mas para a sociedade e economia brasileira.

Vejo pouca mobilização no suporte a esses milhares de profissionais que estão perdendo seus empregos. As empresas poderiam se organizar e formar parcerias com o setor público, criando condições para que os profissionais possam ser preparados tecnicamente para uma nova fase. Instituições como Sesc, Fiesp, Senai, Senac e sindicatos, por exemplo, teriam condições de criar uma plataforma única para cadastramento e encaminhamento dos desempregados.

Precisamos esgotar as alternativas e criar uma rede de sustentabilidade para evitar um desastre ainda maior. Ou teremos um mar de profissionais desempregados e sem perspectivas em um país onde a educação é uma lástima.
Fonte: Valor Econômico
 
 


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