O engenheiro civil Mario Cezar de Aguiar assume a presidência da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) em solenidade marcada para o dia 10 de agosto, na sede da entidade, em Florianópolis.
Formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é especialista em construção civil pela FURB. Sócio das empresas Vectra Participações e Construções, Vectrapar Construções e Êxito Construções, tem longa vivência no meio associativista.
Presidiu a Associação Empresarial de Joinville; liderou o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) na cidade e está na diretoria da Fiesc há sete anos, onde também preside a Câmara de Assuntos de Transporte e Logística. Profundo conhecedor da realidade da indústria catarinense, destaca-se por acompanhar bem de perto a situação da infraestrutura. Seu nome foi naturalmente consensual para suceder Glauco José Corte no comando da mais importante e influente entidade empresarial do Estado. Em entrevista, Aguiar fala de infraestrutura, comércio exterior, educação, entre outros temas.
O senhor assume o comando da poderosa Fiesc no próximo dia 10. Qual é seu sentimento às vésperas da posse?
Assumo com o senso de responsabilidade que o cargo exige. Conheço bem a estrutura da federação; são sete anos na vice-presidência. Estou credenciado, preparado para o desafio. Fui candidato da situação. Daremos continuidade ao que o presidente Glauco tem feito, brilhantemente, ao longo dos últimos anos.
Como avalia a gestão de Glauco José Côrte?
A gestão do Glauco marcou história. Tratou exemplarmente de todos os assuntos prioritários de interesse da indústria.
O senhor implantará mudanças?
Vamos implantar mudanças por conta da realidade diferente que vive o país. Mas isso a seu tempo. A mesa diretora é muito representativa e que vai nos auxiliar muito durante o mandato em todos os assuntos.
O que será prioritário?
A Fiesc atua em quatro pilares: ambiente institucional; demandas de infraestrutura; educação e planejamento estratégico. A indústria precisa ter ambiente favorável para crescer, criar empregos, desenvolver a sociedade e o Estado.
A Infraestrutura do Estado é o grande gargalo?
Sem dúvida. Santa Catarina é deficiente nessa área. A Infraestrutura é precária e isso é fator retardatário do desenvolvimento econômico. Na questão dos aeroportos, o melhor exemplo é o de Joinville. Mesmo com equipamentos, como o ILS-1 (sistema que dá orientação precisa ao avião na fase de aproximação final da pista), ainda sendo o aeroporto mais confortável do Estado, às vezes os voos não saem. O aeroporto de Navegantes é acanhado, pequeno. E o de Florianópolis também. Vai melhorar, agora, com a administração da iniciativa privada.
E no estado nem temos ferrovias dignas do nome.
A falta do modal ferroviário foi comprovada durante a paralisação dos caminhoneiros, em maio, por 11 dias. Todos ficamos reféns. Foi um enorme equívoco o abandono das ferrovias. Claro que as ferrovias não vão substituir o modal rodoviário, mas serão uma boa opção para o escoamento da produção.
Aliás, as nossas estradas são bem ruins.
As nossas estradas são precaríssimas! Há dificuldades de acesso. Tanto as que cortam a região Oeste – de onde sai a grande maioria de nossos produtos agrícolas – como no Vale do Itajaí, que reúne alguns municípios fundamentais para a economia catarinense e é uma das regiões mais ricas do país. A BR-101, em alguns trechos, já está com sua capacidade de tráfego esgotada e não consegue atender a demanda do fluxo. O cenário rodoviário não é bom. Vamos ter que “brigar” muito.
O custo logístico é desproporcional?
Nosso custo logístico é de 14 centavos por real faturado pelas indústrias. Nos Estados Unidos é de 8,5 centavos por dólar faturado. Precisamos de mais concessões, de parcerias público-privadas. No caso do pedágio, a visão é de que ele tem de ser um benefício para a sociedade. Melhor ter que pagar e ter estradas boas.
O que é necessário para as empresas se habilitarem a investir mais, em obras de infraestrutura?
As empresas precisam de três coisas essenciais: segurança jurídica; vontade política do governo; e obter taxa de retorno adequada.
A guerra fiscal criou distorções em torno da ideia de atrair empresas. Cada Estado com sua política e suas regras. Como enxerga isso?
É importante haver isonomia entre os Estados. Temos que trabalhar para encontrar solução para a guerra fiscal. Neste sentido, o Fórum Parlamentar Catarinense está agindo bem. É importante se chegar a critérios isonômicos entre os Estados, porque a guerra fiscal não interessa a ninguém. Esses benefícios, sem critério, não ajudam a ninguém. Podemos, via Confederação Nacional da Indústria (CNI), ajudar as bancadas a equalizar isso.
Em relação aos nossos portos, como avalia a situação?
Temos cinco portos e a logística é muito boa. A estrutura portuária é uma de nossas vantagens competitivas. Veja que 19% de toda a movimentação de cargas de contêineres do país passam pelos nossos portos. Temos portos bem eficientes. O problema é do porto para fora. E é importante adequá-los para receber navios maiores, de 366 metros de comprimento.
Energia é problema ainda em 2018?
No Oeste, ainda há empresas que sofrem com a queda de energia. A Tirol, por exemplo, tem tido problemas. Imagina, no ramo de alimentos, isso é grave.
Pode faltar gás natural daqui a alguns anos para as indústrias? A Fiesc está preocupada com essa possibilidade?
A utilização do gás natural é mais significativa na indústria cerâmica, têxtil. O contrato da SCGás com a Bolívia se encerra em 2019. Podemos ter usina de gás liquefeito de petróleo. Temos que verificar essa alternativa.
Que demandas a Fiesc tem ao futuro governador?
Uma delas é não elevar a carga tributária. Outra é o Estado fazer reforma necessária e se tornar mais eficiente. Dar foco em melhoria na saúde, no aprimoramento da educação e em segurança pública. Importante o Estado ser referência em serviços na área de saúde. Na Educação já somos melhores do que grande parte dos Estados. Ainda é preciso melhorar a formação e o espírito de cidadania. E na Segurança, não somos uma ilha. Não adianta ter muitos policiais, sem ter a inteligência e, com inteligência e efetivo, o Estado conseguir dar a sensação de segurança.
O Estado de SC é competitivo para atrair empresas?
O Paraguai tem absorvido investimentos de empresas catarinenses com a adoção de política agressiva de atratividade. O Paraguai oferece energia mais barata, mão de obra mais barata, tributação menor. Vamos defender que empresas permaneçam e cresçam aqui.
Tem algum setor específico que preocupa mais?
Sim. A agroindústria corre grande risco. Os empresários do setor têm sido procurados por Estados da região Centro-oeste (especialmente o Mato Grosso do Sul e Goiás), onde estão as matérias-primas. A favor de SC estão os fatos de que somos o único Estado com sanidade animal livre de aftosa sem vacinação; e nossa produtividade supera a de outros Estados. E, ainda, os segmentos de aves e suínos são super relevantes no contexto nacional.
A federação lidera o Movimento “Santa Catarina pela Educação”. O fator mão-de-obra é decisivo para a competitividade global. Como avalia esse ponto?
A qualidade da mão de obra catarinense ainda é destaque. Afinal, a produtividade é ligada ao nível de escolaridade. Em 2012, 49% dos industriários tinham ensino fundamental, até a oitava série. Em 2018 o percentual subiu para 59%.
As exportações ainda se concentram muito nas grandes e médias empresas. Como as pequenas podem ter maior participação?
Precisamos que micro e pequenas empresas entrem com maior força no mercado internacional. Teremos um olhar bem atento para que elas acessem o mercado global. Criaremos um grupo de trabalho com essa lógica. Para uma empresa se internacionalizar, o desejável é que 30% de sua produção seja exportada. A indústria que exporta é mais competitiva. Quem exporta tem mais qualidade e reduz custos. Nós vamos fortalecer o Centro Internacional de Negócios da Fiesc.
Há atenção para algum setor da economia, em especial?
A Fiesc está muito atenta ao desenvolvimento do setor de tecnologia. Santa Catarina tem essa vocação. Florianópolis, Joinville e Blumenau se destacam. O Estado deve apoiar.
Qual é a estrutura da Fiesc?
A Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina se compõe da Fiesc, Sesi, Senai e IEL. Tem 9 mil funcionários. O Sesi faz um trabalho bem interessante; produz 95 mil refeições por dia, atendendo indústrias em dez Estados brasileiros. E também administra 75 farmácias. No Senai, os institutos de inovação (dois em Joinville e outro em Florianópolis) auxiliam empresas a serem mais produtivas com base tecnológica de ponta. A indústria está se preparando para a era 4.0. E o IEL fomenta estágios.
FIESC EM NÚMEROS
141 sindicatos filiados
268,6 mil matrículas em Educação por ano
294 mil horas de serviços de Inovação e Tecnologia
403,5 mil trabalhadores atendidos em Saúde e Segurança por ano
O setor industrial catarinense tem 51 mil empresas e 735 mil trabalhadores, respondendo por 34% dos empregos formais e 28,7% do PIB do Estado.
Fonte: A Notícia – Entrevista da Semana – Cláudio Loetz – 04 e 05.08.2018
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