Espaços receberam cerca de R$ 60 milhões em investimentos e vão servir de suporte para a manufatura avançada com o desenvolvimento de produtos e tecnologias.
Ideias inovadoras e o desenvolvimento de soluções com potencial para transformar a produtividade e a competitividade ganham impulso na mais industrial das cidades catarinenses a partir de hoje. A data marca a entrega da nova sede dos institutos de inovação em sistemas de manufatura e processamento a laser do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em Joinville.
Com investimentos de aproximadamente R$ 60 milhões, entre instalações e máquinas com tecnologia de ponta, o espaço já surge como referência no País em pesquisas aplicadas aos conceitos de manufatura avançada. Localizado na Zona Industrial Norte, nas proximidades do endereço antigo que abrigava a iniciativa desde 2014, o empreendimento amplia em sete vezes a área física dos dois institutos.
Em funcionamento desde o início deste mês em um edifício de três andares e com área construída de oito mil metros quadrados, as novas instalações irão possibilitar atender a um número maior de projetos e demandas da indústria. Atualmente, são cerca de 60 profissionais atuando em 42 projetos, em especial, nos segmentos das indústrias automotiva, médica, odontomédica, aeroespacial, metalmecânica, de energia e de óleo e gás.
De acordo com Marcos Hollerweger, diretor do Senai na região Norte e Nordeste do Estado, o potencial de ocupação do local para novas tecnologias e soluções industriais é ainda maior.
– Hoje, somente cerca de 50% da área total do prédio estão ocupados, sendo que ainda há áreas mobiliadas sem ocupação e com condições de atender a volumes grandes de projetos vindos da indústria. Temos capacidade e, caso essas empresas precisem de mais apoio do Senai em desenvolvimento e pesquisa, temos como comportar essas demandas – destaca.
Em três anos, o contato entre os institutos de inovação com indústrias e universidades já rendeu mais de cem parcerias. Conforme Alceri Schlotefeldt, coordenador de negócios da unidade, novas soluções conjuntas com o mercado são viáveis porque “o ambiente reúne o que há de mais avançado no mundo em processamento de materiais a laser”.
Isso resulta em um aporte de R$ 25 milhões em instalações e outros R$ 34,7 milhões em equipamentos, investidos em parceria entre a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Credenciados pela Empresa Brasileira de Pesquisa de Inovação Industrial (Embrapii), os institutos de sistemas de manufatura e processamento a laser de Joinville possuem um plano de trabalho orçado em R$ 18 milhões para projetos de pesquisa em seis anos.
O valor será fracionado em três partes, de acordo com o número de projetos, sendo que o investimento em cada demanda será proveniente da Embrapii – até R$ 6 milhões –, Senai e a empresa beneficiada pelo projeto.
Precisão nos resultados
Os equipamentos que exigem maior precisão de resultados têm uma base antitrepidação formada por um maciço de concreto com cerca de dois metros de profundidade e molas ajustadas ao peso das máquinas. Desta forma, caso veículos de maior porte passem pelas proximidades dos institutos e provoquem trepidação do solo, as máquinas que estão sobre o maciço – microusinagem, cinco eixos e medida automática – permanecem inertes.
Com a solução, a medida não compromete a precisão dos resultados de produção e análise de ferramentas. Em outra área, também no térreo, foi projetado um amplo espaço maker para coworking, brainstorm e concepção de ideias, próximo à recepção. O espaço conta ainda com cafeteria. No bloco ao lado, no mesmo terreno, funcionam 14 turmas do ensino médio do Senai, com mais de 580 alunos matriculados. A proximidade entre a sede dos institutos e as salas de aula atinge outro objetivo da instituição: possibilitar maior interação entre inovação, ensino e mercado.
Para que essas ideias possam começar a sair do papel, outra sala abriga um laboratório aberto, onde, além do novas ideias, podem ser criados moldes de protótipos para a indústria, além de projeção, impressão em 3D e moldagem com o auxílio de máquinas. Considerado um espaço de cocriação, projetos e desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços, o local é aberto a todos os interessados que tenham ideias voltadas ao desenvolvimento industrial.
Parceiros já estão alocados
Algumas das iniciativas já estão em andamento há cerca de 20 dias no prédio, por meio de salas ocupadas por entidades e indústrias nas quais as empresas podem desenvolver suas próprias pesquisas. Entre elas, destaca-se a instalação da Associação Brasileira de Internet Industrial (Abii) e de um projeto permanente da Embraco, denominado Diili – tecnologia desenvolvida com base na internet das coisas (IoT) capaz de desenvolver aplicações para sistemas de refrigeração.
O espaço também tem dezenas de laboratórios, no térreo, que oferecem soluções em modelagem, simulação e manufatura para sistemas que demandam mais efetividade e qualidade de produção, além de deposição, soldagem e corte de metais a laser. As salas laboratoriais possibilitam uma ampla gama de resultados, como a criação, análise e otimização de processos de usinagem avançada e microusinagem, microinjeção, desenvolvimento de produtos e máquinas, prototipagem e impressão em 3D.
De acordo com o Senai, os investimentos em sistemas de última geração têm como objetivo principal melhorar os processos de manufatura e o desempenho industrial. Entre os recursos do Senai que contribuem para a transformação da indústria está ainda a realização de ensaios e análises de falhas e desenvolvimento de testes focados nas propriedades mecânicas dos materiais utilizados na indústria, química instrumental, microscopia eletrônica e difração de raio X.
Máquinas desenvolvem objetos complexos
Em alas distintas, os laboratórios do Instituto de Inovação de Sistemas de Manufatura e do Instituto de Inovação em Processamento a Laser têm equipamentos de última geração e técnicas computadorizadas que permitem a criação de objetos complexos com extrema precisão.
Uma das máquinas, a RPMI 535, que faz a deposição de metais a laser, é considerada a segunda maior máquina do mundo. Invenção americana, ela é a primeira de deposição de metais a laser em atmosfera controlada a entrar em operação na América Latina. Um grupo de americanos está em Joinville com a missão de terminar a instalação e realizar o treinamento operacional do equipamento.
Jhonattan Gutjahr, doutorando em engenharia mecânica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é um dos que recebe capacitação. Segundo ele, com a RPMI 535 é possível processar em 3D peças de alta complexidade por meio de feixes de laser, que podem ser utilizadas em indústrias como a naval e aeronáutica.
– Uma das vantagens desta máquina é que ela é uma atmosfera inerte, então cada processamento é feito de forma com que a atmosfera fique com menos de 10 ppm (partes por milhão) de oxigênio interno e isso não é comum em nenhum tipo de equipamento. É específica dele e isso possibilita, por exemplo, processar em alta qualidade peças de titânio, que têm alta reatividade e que nenhuma máquina consegue fazer – afirma.
A mesma máquina, que teve custo de R$ 10 milhões, também possibilita fazer cortes e soldas a laser de metais complexos, além de revestimentos internos em tubos, que representam grande vantagem para as áreas de petróleo e gás. Outro sistema, de fusão seletiva a laser (SLM), transforma pó metálico em peças sólidas. A produção do material é feita camada por camada com uma fonte de laser, que varre o leito de pó e funde a peça de acordo com o projetado no arquivo 3D.
Fonte: A Notícia – Indústria – 21.09.2017
Simpesc nas redes sociais