Dados oficiais revelam que ocorrem dezenas de milhares de acidentes de trabalho por ano em Santa Catarina. Diante do problema social, econômico e jurídico daí decorrente, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) lançou o Programa Trabalho Seguro.
O interesse pelo assunto chegou também à Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc). O superintendente do Sesi, Fabrízio Machado Pereira, lidera o Movimento Aliança, Saúde e Competitividade. O tema passa a incorporar o leque de assuntos considerados essenciais para a indústria ser mais competitiva. Com esta perspectiva, o Sesi está fazendo vários workshops pelo Estado para disseminar a cultura da prevenção e debater possíveis encaminhamentos de soluções. Nesta entrevista, Pereira fala dos propósitos do movimento, reconhece ser uma pauta áspera, que ainda não envolve o comando das empresas, e explica o modelo asiático.
A Fiesc, via Sesi, está promovendo sucessivos workskops, denominados Aliança, saúde e competitividade em diferentes regiões do Estado. O Sesi coordena o movimento. Os próximos encontros serão em Jaraguá do Sul, hoje e em Joinville, amanhã. Do que exatamente se trata?
Fabrízio Machado Pereira – Saúde é uma agenda de emergência. Como a educação também continua sendo. Inovação, meio ambiente e produtividade já estavam, antes, no topo. Permanecem super-relevantes, e a pauta da saúde ganhou espaço.
Que tipo de ações precisam ser estimuladas?
Pereira – Devemos estimular parcerias com redes de estabelecimentos de saúde, até mesmo com a rede do Sistema Único de Saúde, o SUS.
Qual deve ser o foco?
Pereira – O fundamental é a ação preventiva. É fundamental anteciparmo-nos ao surgimento de problemas de saúde. Há doenças lentas, sem sintomas aparentes, que, depois que aparecem, muitas vezes causam sérios problemas.
O maior problema é o grande número de afastamentos do trabalho. Isso causa prejuízo econômico grande às empresas. Gera improdutividade. A demora do INSS em fazer os exames e as perícias e as consultas de trabalhadores afastados para autorizar o retorno às suas atividades é outra questão preocupante.
Pereira – Um dado: no Brasil, as doenças ocupacionais e os acidentes de trabalho custam R$ 70 bilhões.
A Aliança Saúde e Competitividade tem pilares definidos de atuação? Qual é a estratégia?
Pereira – A Aliança Saúde e Competitividade se alicerça em quatro pilares: conhecimento, sensibilização, mobilização e soluções. Então, é preciso: 1. Desenvolver a cultura de melhor segurança no trabalho e prevenção a problemas de saúde; e 2. Agir para evitar a judicialização das relações – ninguém ganha com a crescente judicialização. Há muita fiscalização, mas o governo não incentiva e nem premia as empresas que agem preventivamente.
Algum exemplo?
Pereira – Em Balneário Camboriú, uma construtora utiliza o aplicativo Smart Safe no Iate Clube, em caráter piloto. O aplicativo informa, via sensores, se o trabalhador está em algum lugar de risco na obra.
Mais algum aspecto?
Pereira – É o que trata de aperfeiçoamento da gestão, com adoção de práticas orientadas por indicadores. O essencial é ser mais efetivo na gestão dos recursos.
Mas o assunto saúde e segurança no trabalho ainda é visto como lateral dentro das organizações.
Pereira – É verdade. Nas empresas, o tema é atribuição única do médico do trabalho e do engenheiro de segurança. Isso precisa evoluir. Precisamos adotar o espírito de cooperação coletiva. Temos de envolver quem decide.
Estamos longe disso. No plano estratégico, de um olhar para o longo prazo, então, nem se imagina.
Pereira – Veja. Singapura, na Ásia, adota a questão da saúde como elemento fundamental para atrair novos negócios sustentáveis. Eles, assim, vão gerar muito mais empregos de qualidade. E isso também traz uma marca forte. Passa a ser uma bandeira da cidade, do Estado, do país. E gera riquezas.
Aqui isso é utopia. Ao menos por enquanto. O empresário está envolvido com problemas cotidianos, de curtíssimo prazo. É um assunto para adiante, me parece.
Pereira – É um tema árduo, sim. Nada fácil. Reconheço que é uma pauta áspera. É embate de judicialização e tem a ver com interesses conflitantes. Sim, é uma pauta de futuro que precisa começar a ser tratada, porque se relaciona ao estratégico, ao duradouro.
Saúde será tema relevante nas discussões entre sindicatos patronais e laborais?
Pereira – Lembremos: romperam-se as barreiras pela adoção de práticas de melhoria da qualidade; depois, identificou-se a necessidade de avançar no quesito inovação; agora, a educação consta da pauta da indústria, cada vez com mais força. Sim, a melhora das condições de segurança e a prevenção pela saúde vão convergir para os interesses de ambos os lados. É assunto que emerge e tem a ver com a sustentabilidade dos negócios e qualidade de vida.
Fonte: A Notícia – Livre Mercado – Cláudio Loetz
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