A reformulação do currículo é urgente, assim como a melhoria da governança, com foco em resultados, disse o economista Ricardo Paes de Barros, durante reunião do Conselho Superior Estratégico da FIESC.
Florianópolis, 28.10.2016 – A proposta de ensino médio em tempo integral que vem sendo debatida pelo Brasil pode ressignificar a educação e ter impacto positivo sobre a produtividade, disse o economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, Ricardo Paes de Barros. Contudo, além de reformular o ensino, é urgente o investimento na governança do sistema, que deve ter plano e metas para que o Brasil possa avançar nas avaliações de desempenho, alertou. Ele abordou o tema em reunião do Conselho Superior Estratégico da Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC), realizada nesta sexta-feira (28), em Florianópolis.
Barros citou exemplos de escolas de Pernambuco e do Rio de Janeiro nas quais a educação integral tem mostrado enorme impacto sobre o aprendizado. “Caso o Brasil tenha educação integral para todos, com a qualidade das escolas com educação integral de Pernambuco e do Rio de Janeiro, ultrapassaremos a Grécia para alcançar o nível educacional dos Estados Unidos e Portugal”, comparou. Na Grécia, a porcentagem de estudantes que têm desempenho considerado adequado é o dobro da porcentagem do Brasil – cerca de 60% contra aproximadamente 30%.
O secretário de Educação, Eduardo Deschamps, classificou de jabuticaba, por só existir no Brasil, o modelo de ensino médio aplicado no País, com padrão médio de 13 disciplinas. “A reformulação é urgente e necessária. Precisamos mudar a arquitetura do ensino médio e soltar as amarras”, afirmou ele, que apresentou as principais mudanças propostas pela Medida Provisória 746/2016, que trata do novo ensino médio.
Ele destacou que o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) brasileiro do ensino médio está estagnado desde 2011 e o desempenho das disciplinas de português e matemática é menor do que em 1997. Além disso, 1,7 milhão de jovens de 15 a 17 anos estão fora da sala de aula no País e apenas 18% dos jovens de 18 a 24 anos ingressam no ensino superior.
Para o presidente da FIESC, Glauco José Côrte, o debate confirma que o tema do momento no Brasil é a educação e que é necessário discutir como melhorar o nível de escolaridade. “O que foi mencionado pelo Ricardo e pelo secretário Eduardo Deschamps convalida o nosso Movimento Santa Catarina pela Educação”, afirmou, chamando a atenção para os impactos da indústria 4.0, para a qual a formação de pessoas será decisiva.
“O Brasil está despertando para a necessidade de nos prepararmos para esse novo sistema de manufatura. Foi um tema muito discutido no Encontro Econômico Brasil-Alemanha, realizado em outubro, onde levamos a experiência brasileira”, ressaltou Côrte, destacando que a indústria 4.0 é a chance de o Brasil se aproximar dos países desenvolvidos.
“É uma nova revolução. Se não fizermos isso agora, inevitavelmente, não teremos mais chances de ter um desenvolvimento compatível com os demais Países”, declarou, lembrando que o diretor regional do SENAI/SC, Jefferson de Oliveira Gomes, coordenou um grupo de trabalho que passou por sete Estados e reuniu 500 especialistas que debateram os caminhos do Brasil para se engajar na indústria 4.0. “E o resumo é que precisamos de conhecimento e talentos”, concluiu Côrte.
Segundo Deschamps, entre as principais propostas previstas na MP do ensino médio estão a flexibilização curricular, com foco nas escolhas dos alunos, maior articulação com educação profissional, educação integral, com ênfase nas competências do século 21, expansão progressiva do tempo integral e alinhamento com as melhores experiências internacionais.
“Para Santa Catarina, particularmente, é uma grande oportunidade. Estamos trabalhando com uma rede de parceiros”, afirmou ele, lembrando que a partir de 2017 o Estado terá mais escolas em tempo integral. Inclusive, a Secretaria está desenvolvendo um modelo em parceria com o SENAI, conectado às competências do século 21.
O SENAI já oferecia o ensino médio articulado com a educação profissional e agora está atualizando a proposta, com projeto-piloto em escolas do SENAI em Criciúma e Florianópolis e em outras seis instituições da rede pública estadual, antecipando-se à MP. “A MP e a mudança no ensino médio são uma janela de oportunidades. Se mudarmos esse modelo podemos torná-lo mais atrativo para o estudante. A educação é pública, mas não precisa ser exclusivamente governamental”, declarou o secretário.
Ricardo Barros explicou que em Santa Catarina os salários crescem três vezes mais que a produtividade. Enquanto o primeiro aumenta a uma taxa de 4% ao ano, o segundo avança 1,5% anualmente, comparou. Dados apresentados na reunião mostram que a renda per capta do catarinense saiu de R$ 800 em 2002 para R$ 1.339 em 2014, aumento de 4% ao ano.
Conforme o economista, 65% desse crescimento veio do aumento de salário, que saiu de R$ 1.251 em 2002 para R$ 1.905 em 2014. Em 2004, Santa Catarina tinha o sexto maior PIB por trabalhador. Em 2013 o Estado caiu para o nono lugar. “A produtividade do Brasil cresce pouco, mas a produtividade catarinense aumenta a uma velocidade ainda menor”, disse.
Saúde e segurança: ainda durante a reunião, o gerente-executivo de qualidade de vida do SESI Nacional, Emmanuel Lacerda, destacou que os acidentes e doenças do trabalho somam R$ 71 bilhões por ano no Brasil. Isso representa 9% da folha salarial do País. De 2006 a 2013 o Brasil gastou R$ 65,9 bilhões com auxílios doença e aposentadoria por invalidez. Segundo ele, são fatores que afetam a produtividade.
Lacerda também abordou a transição demográfica e lembrou que a população está envelhecendo, o que vai exigir mais gestão e ações diferenciadas das empresas na área. Em 2030, o Brasil será o sexto País mais idoso do mundo, com 55% da população com mais de 35 anos; em 2040, 52% da população terá mais de 40 anos e a população infantil cairá de 42,7% para 24,1% em 50 anos.
Emmanuel também apresentou as estratégias do SESI para auxiliar a indústria nesse novo cenário, a partir do uso de tecnologia e de mudanças em legislações na área.
Ainda na reunião, o superintendente do SESI/SC, Fabrizio Machado Pereira, apresentou a Aliança Saúde Competitividade, iniciativa que visa ao engajamento e a participação de lideranças empresariais, acadêmicas, políticas e da sociedade na promoção da saúde e ambientes seguros para o trabalho, com ações de sensibilização e mobilização, além de reposicionar o tema como um dos fatores estratégicos para a competitividade da indústria. “O objetivo é fazer com que o tema seja tratado de forma estratégica pelas organizações e que seja elevado para o nível decisório das empresas”, afirmou.
Fonte: FIESC
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