Na reunião de diretoria da entidade, o presidente do Instituto Acende Brasil não descartou novas interrupções no fornecimento de energia, como as que ocorreram no dia 19 de janeiro
Florianópolis, 30.1.2015 – “A hora de programar o racionamento é agora. Já deveria ter começado”, afirmou o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, na reunião de diretoria da Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC), realizada nesta sexta-feira (30), em Florianópolis.
“O racionamento, se necessário, é uma operação complexa. Tem que fazer as melhores escolhas sobre os incentivos, os instrumentos para reduzir o consumo e a redução adequada dos contratos”, explicou, alertando que se trata de um arranjo complexo.
“Para ser bem construído, tem que ser sob forte liderança do governo, mas com a participação de todos os agentes, de forma transparente, para que o desenho seja sem surpresa e o mais eficiente possível”, disse Sales. Ele explica que o racionamento seria uma medida para recompor os reservatórios, e lembra que o País se encontra no meio do período de cheias, quando os reservatórios deveriam estar subindo, para acumular água para o restante do ano. Contudo, estão baixando.
“A indústria está preocupada. A demanda só não é maior porque o País está crescendo pouco, mas, sem dúvida, o governo tem que tomar medidas que racionalizem o uso da energia”, afirmou o presidente da FIESC, Glauco José Côrte. Ele destaca que problemas de gestão perpassam todas as obras do governo. “As do setor elétrico estão atrasadas, assim como as de infraestrutura. É preciso um novo sistema de governança das obras públicas para que sejam realizadas dentro dos prazos e dos orçamentos”, disse.
Claudio Sales, que há mais de 20 anos atua no setor elétrico, não descartou novas interrupções no fornecimento de energia, como aquela ocorrida no dia 19 de janeiro, afetando diversos Estados. “Foi um apagão o que aconteceu porque faltou capacidade para atender o pico daquele momento.
Estamos passando o verão, época em que é de se esperar consumo elevado. Estamos praticamente sem reservas, portanto, sujeitos a que episódios deste tipo voltem a se repetir”, disse, salientando que é difícil prever com exatidão. Esse quadro leva em conta a pressão da demanda atual, que ocupa toda a capacidade de geração.
Engenheiro de formação, o presidente do Instituto Acende Brasil disse ainda que todas as usinas termoelétricas estão sendo acionadas e o parque hidrelétrico está comprometido em função do nível dos reservatórios, o que reduz a capacidade das usinas. “Este é o retrato da situação. Esta realidade não tem como mudar de forma significativa nos próximos três meses”, informou. Em relação às medidas tomadas pelo governo, como a importação de energia da Argentina, o especialista classificou como “marginal” diante do problema.
Tarifas: para 2015, a conta de energia elétrica deve aumentar de 30% a 40% para o consumidor. Entre os fatores que influenciam essa alta estão o pagamento dos financiamentos feitos pelo setor elétrico para estabelecer o equilíbrio econômico-financeiro, especialmente das distribuidoras, afetadas pela Medida Provisória 579, a instituição do sistema de bandeiras tarifárias, o aumento do preço da energia gerada em Itaipu, além da inflação.
“A conta está aquecida e em cima da mesa. A capacidade de arrefecer está cada vez mais limitada. É um impacto muito negativo nesse momento em que o País precisa retomar o crescimento”, afirmou Claudio.
Fontes de geração: Na opinião de Sales, o Brasil é privilegiado em multiplicidade de fontes, mas é “ineficiente” na gestão e falta transparência. Ele defende maior participação de outras fontes que venham a ser complementares à hidrelétrica. “A geração termoelétrica tem sido muito maltratada a partir do alto grau de desinformação no que diz respeito à produção de gases de efeito estufa.
A maioria dos países do hemisfério norte têm na geração termoelétrica a principal fonte de eletricidade. No Brasil é exatamente ao contrário. A maior parte da produção é feita a partir de fontes renováveis que não produzem gases de efeito estufa. Podemos e precisamos ter um parque termoelétrico eficiente”, defendeu ele, lembrando que há tecnologia para usinas a carvão e a gás natural extremamente modernas que reduzem ao mínimo o nível de poluição.
“O Brasil conta com um potencial de geração a carvão, principalmente no Sul. O País também precisa modificar a política do gás natural, tirando a Petrobras da posição de monopólio, que é um obstáculo ao desenvolvimento do setor”, concluiu.
Côrte, da FIESC, também falou da preocupação com o suprimento do gás natural em Santa Catarina e lembrou que estudos indicam que há alternativas de curto prazo que possam amenizar a situação do abastecimento. A entidade está em contato com o Ministério de Minas e Energia para programar a primeira reunião do ano sobre o assunto. No início de 2014 foi criado um grupo técnico que estuda o assunto, com foco na região Sul.
Fonte: FIESC
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