Engenheiro da agência alemã GIZ afirma que isso corre por causa da rede de tubulação antiga, que favorece vazamentos, além da gestão pouco eficiente do sistema.
Florianópolis, 3.10.2014 – No Brasil, 30% de toda a água tratada é desperdiçada durante a distribuição aos consumidores. O principal motivo que leva a essa perda é a rede de tubulação antiga, que é mais suscetível a vazamentos, além da gestão pouco eficiente do sistema, afirmou o engenheiro da Agência de Cooperação Internacional da Alemanha (GIZ), Raúl Trujilo Alvarez.
O especialista participou de seminário sobre saneamento, promovido pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC), nesta sexta-feira (3), em Florianópolis. O evento é mais uma ação do Plano de Sustentabilidade para a Competitividade da Indústria Catarinense.
“Estamos jogando fora um volume impressionante de água. Isso não é negócio para ninguém. A água no Brasil é barata demais. Enquanto não for cobrado o custo real, não vamos otimizar o sistema”, afirmou Alvarez, salientando que junto com a água também está sendo desperdiçada a energia elétrica gasta na operação do sistema para captação e tratamento. Segundo ele, o nível de perda aceitável é de até 8%, como ocorre na Alemanha.
No caso do Brasil, o consumidor também tem uma parcela de responsabilidade, explicou ele, lembrando que boa parte da estrutura de saneamento é subsidiada. Com isso, o preço pago pelo consumidor para receber a água é considerado baixo se comparado aos países que cobram pela água e pela infraestrutura do sistema. “Quando pesa no bolso, é diferente”, disse.
Em relação ao tratamento de esgoto, o engenheiro da Casan, Fábio Cesar Krieger, afirmou que a população urbana de Santa Catarina é de 5,2 milhões habitantes, mas só 14% desse total têm coleta e tratamento. O especialista destacou que de 1997 a 2007 não houve financiamento para o setor, o que impossibilitou novos investimentos.
No entanto, a partir de 2008, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) mais as parcerias com instituições internacionais, essa situação mudou. De 2014 a 2017, a estatal catarinense prevê investir R$ 1,5 bilhão no abastecimento de água e no tratamento de esgoto. Serão beneficiados 31 municípios e 963 mil habitantes.
Dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostram que seriam necessários de R$ 7 a 8 bilhões para universalizar o saneamento em Santa Catarina. Em 2010, 1,4 milhão de domicílios não tinha acesso à rede de esgoto no Estado. De lá para cá, acredita-se que não tenha mudado muito. As informações foram apresentadas pelo presidente-executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos.
Na opinião do presidente da Câmara de Qualidade Ambiental da FIESC, José Lourival Magri, a infraestrutura de saneamento é tão importante quanto a infraestrutura logística (portos, aeroportos e estradas). Para reduzir os problemas na área ele acredita que um dos caminhos é a realização de parcerias público-privadas, como vem ocorrendo no setor aeroportuário. “Santa Catarina tem um bom desenvolvimento econômico e social, mas, infelizmente, no saneamento estamos entre os sete piores Estados do país. Temos que colocar o dedo na ferida. Não dá mais para conviver com isso”, afirmou.
Saneamento do século 18: “A situação do saneamento no Brasil é dramática. Não é força de expressão. É ruim mesmo”, afirmou Édison, do Trata Brasil. “O país parou no século 18 e 19 em saneamento”, completou ele, que está à frente de uma entidade referência no acompanhamento da questão no país.
Esta é uma área da infraestrutura pouco debatida e não avança apesar dos esforços de muitas instituições. “É um tema que não comove as autoridades. Visitei 25 cidades do Pantanal e a maioria não trata um litro de esgoto, vai direto para as nascentes”, ressaltou.
Apesar da importância do saneamento, a população não dá o devido reconhecimento. Pesquisa do Ibope mostra que 50% dos entrevistados não estão dispostos a pagar por isso. “O brasileiro ainda acha que é um serviço que não precisa. Necessitamos da sociedade para mudar isso”, disse ele.
O especialista também alertou para as doenças causadas pela falta de saneamento. Elas afetam, principalmente, crianças de 0 a 5 anos (53% dos internamentos por diarreia). Os gastos do SUS nas cidades com piores índices de saneamento é 40 vezes maior do que nos municípios que investem na área.
No encontro, o consultor do SENAI/SC, Ricardo Hubner, apresentou as ações para a área de saneamento realizadas pelo do Instituto de Tecnologia Ambiental da entidade, que atua em todo o Estado.
Fonte: FIESC
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