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Por que só ela sobreviveu?

04 de agosto de 2014
Por que só ela sobreviveu?

TECNOFIBRAS colhe os frutos de uma gestão profissionalizada, algo que a Busscar não conseguiu implantar

Quando a Busscar fechou as portas, em 2012, levou consigo as demais seis unidades do grupo (Busscar Comércio Exterior, Bus Car Investimentos e Empreendimentos, TSA Tecnologia, Climabuss, Nienpal Empreendimentos e Participações e Lamba Participações e Empreendimentos), exceto uma delas: a Tecnofibras. Em meio às turbulências, a unidade de soluções em plástico não estava com as finanças ameaçadas e continuou tocando o negócio enquanto via a fabricante de ônibus desmoronando ao seu lado.

Por pertencer ao mesmo grupo, a Tecnofibras deveria, em tese, seguir um modelo de gestão semelhante, mas não foi assim. A sobrevivência da unidade se deve a uma decisão acertada da família de chamar um gestor externo para ela. Paulo Alberto Zimath, especialista em recuperação de empresas, foi escolhido para arrumar a casa no início de 2007. O objetivo era deixar as finanças da Tecnofibras em dia para colocá-la à venda. Os recursos seriam aplicados na Busscar.

Não deu tempo de concretizar o plano. A crise se agravou e o Grupo Busscar faliu em 2012 (decisão revertida pela Justiça em novembro de 2013). Mas a medida salvou o negócio da Tecnofibras. A empresa desenhou um planejamento estratégico e tributário, reduziu custos, implantou uma nova estrutura organizacional e aprimorou os processos.

A margem operacional (indicador que mede a eficiência da operação) saiu de um resultado negativo em R$ 600 mil no período de 2003 a 2006 para R$ 34,2 milhões entre 2007 e 2013. A carteira de clientes tem nomes como Volvo, Scania, John Deere, Mercedes-Benz, Ford e Mitsubishi.

Apesar do cenário de incerteza sobre o futuro, a rotatividade de trabalhadores tem sido de 2,3%, em média. Para Zimath, isto se deve ao fato de que os salários nunca atrasam e ao que os trabalhadores observam todos os dias: de 12 a 15 carretas saindo do pátio carregadas de produtos para São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

O dia que NUNCA CHEGA

Ainda sem prazo, venda da Tecnofibras pode ajudar novo competidor a entrar no mercado e reduzir o CLIMA DE INCERTEZA dos trabalhadores da empresa

Os cerca de 400 funcionários da Tecnofibras já se acostumaram a trabalhar em um cenário de indefinição. Há anos, vivem a expectativa do dia em que a empresa será colocada à venda. Mais uma vez, este dia parece estar próximo. Se tudo der certo, em 19 de agosto, a assembleia dos credores do Grupo Busscar vai decidir pela falência ou aprovação do plano de recuperação judicial. Nos dois casos, a Tecnofibras terá a venda autorizada.

Se a assembleia decidir pela falência do grupo, o dinheiro da venda vai pagar parte dos credores. Se o plano de recuperação for aprovado, os recursos serão aplicados na retomada das atividades da Busscar. A Tecnofibras está avaliada em R$ 73 milhões, de acordo com o administrador judicial Rainoldo Uessler.

Em 2008, a Busscar já pensava em vender a Tecnofibras para reinvestir na Busscar. No final de 2013, quando o grupo estava oficialmente falido, havia oferta de compra por aproximadamente R$ 60 milhões, revela o diretor-geral Paulo Zimath. Mas a falência foi revertida na Justiça e o negócio não pode ser concretizado. Agora, Zimath diz que há uma empresa internacional e outra nacional interessadas na Tecnofibras, apenas aguardando o momento em que ela for colocada à venda.

A qualidade e a tecnologia dos produtos são diferenciais importantes. Para ingressar nesse segmento, um novo competidor levaria no mínimo dois anos de trabalho conjunto com uma montadora até chegar ao ponto ideal, explica Zimath. Comprar uma empresa que já está no ramo e tem reputação seria um caminho mais seguro. É por isso que o executivo acredita na concretização da venda em no máximo oito meses, após autorização da Justiça.

Não só o grupo se beneficiaria com a mudança de dono, mas o próprio negócio ganharia impulso. O que trava o crescimento da Tecnofibras é a dificuldade de atração de novos grandes clientes. A empresa fornece produtos para o setor automotivo, onde há muitas multinacionais – que não fazem negócios com parceiros cujas finanças estejam em risco. A Tecnofibras não tem dívidas, mas faz parte de um grupo em situação delicada. Por sorte, sua reputação no mercado conseguiu segurar os clientes antigos, que continuaram pedindo novos produtos.

– Se já tivesse sido vendida, a Tecnofibras poderia ter o dobro do tamanho – diz Zimath.

O faturamento tem oscilado pouco abaixo dos R$ 100 milhões, longe dos R$ 133,8 milhões alcançados em 2011. Em 2014, a receita deve cair 30% por conta da redução do mercado. O carro-chefe dos negócios é o setor de caminhões, que representa 65% das vendas.

Aposta em novas tecnologias e produtos

A Tecnofibras é uma empresa que não se deixou paralisar por causa da crise no Grupo Busscar. Como sempre comercializou produtos para o mercado, tinha vida própria e conseguiu avançar tecnologicamente. Uma das apostas mais recentes é o uso de nanotecnologia nos compostos que utilizam fibra de vidro, com o objetivo de reduzir peso, espessura, melhorar a resistência e aumentar a flexibilidade das soluções quando necessário.

– Estamos realizando testes com nanocompósitos para implantação em produtos do setor automotivo no final do ano – diz o diretor Paulo Zimath.

Inovar no material tornou-se mais fácil a partir de meados de 2006, quando a Tecnofibras comprou uma máquina alemã e passou a fabricar a matéria-prima internamente, no lugar de importar o produto. Deu tão certo que hoje até fornece para terceiros.

Ainda há muito o que fazer nessa área. A própria fibra de vidro é um material com grande potencial de crescimento. Ela substitui a chapa de aço, mas o percentual de uso ainda é pequeno, segundo Zimath.

A empresa está animada também com os testes de produtos para ingressar na construção civil – portas, pisos e outros itens que poderão substituir a madeira. Zimath diz que não custam o dobro do preço e duram muito mais.

Fonte: A Notícia – Negócios & Cia.

 
 


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