País asiático tem financiado as importações do país vizinho, o que reduz a saída de divisas da Argentina, informou o ex-embaixador Regis Arslanian, na FIESC.
Florianópolis, 26.8.2014 – Os produtos brasileiros têm perdido espaço para os chineses no mercado argentino. O país asiático tem financiado as importações do país vizinho, o que reduz a saída de divisas da Argentina, que passa por uma crise econômica e se encontra numa situação de calote técnico. “O Brasil chegou a ter um superávit de US$ 6 bilhões há três anos.
Continuamos a ter superávit, mas é de pouco mais de US$ 2 bilhões. Muito desse espaço perdido está sendo ocupado pelos chineses. Isso se deve às condições oferecidas”, afirmou o ex-embaixador Régis Arslanian, que ministrou palestra nesta terça-feira (26), em reunião promovida pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC), em Florianópolis.
“Há três anos houve a tentativa de financiamento aos argentinos para que o Brasil pudesse equiparar as condições que a China oferece. Na época o governo chegou à conclusão que não teria condições”, afirmou o especialista, lembrando que antes de o presidente da China, Xi Jinping, participar do encontro dos BRICs em julho, no Brasil, esteve na Argentina negociando com a presidente Cristina Kirchner um financiamento bilionário.
O presidente da FIESC, Glauco José Côrte, destaca que a Argentina necessita de dólares. O pagamento das importações representa a saída de divisas e por isso o sistema de financiamento da China favorece aquele país. “Os exportadores têm que considerar que a crise pode trazer oportunidades.
O fato é que não podemos sair desse mercado, mas precisamos estar atentos às garantias. Já exportamos mais. Hoje Santa Catarina tem um déficit comercial, mas a nossa importação é basicamente de matérias-primas. A Argentina ainda é um parceiro importante para o Estado”, disse.
O país vizinho é o quinto principal parceiro comercial de Santa Catarina. Os embarques de janeiro a junho somaram US$ 216,6 milhões, valor 19% menor que o registrado no mesmo período no ano passado. Os principais produtos embarcados foram papel cartão, laminados de ferro e aço, motocompressores, motores elétricos e carne suína.
No mesmo período, as importações totalizaram US$ 588,8 milhões. Os principais produtos comprados pelo Estado foram polietilenos, polímeros e ligas de alumínio.
“Está na hora de o Brasil mudar de atitude com relação aos vizinhos e ao Mercosul se impondo mais. Falta pragmatismo e firmeza na defesa dos interesses do País. Temos alavancagem para isso. Ser mais firme é ter mais habilidade negociadora”, salientou Arslanian.
O especialista disse ainda que o Mercosul é um mecanismo de integração que serve para auxiliar o desenvolvimento econômico e social dos sócios do bloco. “Se o Mercosul não anda, a culpa é dos sócios. Quem tem maior responsabilidade para se desenvolver como bloco é o Brasil, que tem 80% do produto interno bruto total do Mercosul”, disse.
Na opinião do ex-embaixador, inclusive as reuniões de cúpula deveriam ser mais produtivas e focadas nos interesses da região. Segundo ele, muitas vezes, há um longo debate sobre temas nos quais o bloco tem pouca influência, como é o caso dos conflitos da faixa de Gaza. “Temos a obrigação de fazer valer os interesses.
Talvez devesse ser discutida a questão das barreiras e restrições. Se não são os presidentes que vão debater isso, não será mais ninguém”, ressaltou. Apesar dos desafios conjunturais, Arslanian disse que é preciso acreditar nos vizinhos e manter uma boa relação com eles, sempre olhando para o longo prazo.
Panorama Brasil: No primeiro semestre de 2014 o Brasil apresentou queda de 3,4% nas exportações em relação ao mesmo período no ano passado. Dentre os cinco principais mercados, o maior recuo foi o da Argentina (-20,4%), seguida por Japão (-4,3%) e Holanda (-2,4%). Se considerados os países da América do Sul, a Argentina foi o mercado que mais reduziu as importações do Brasil. Os embarques do Brasil para Argentina estão concentradas em veículos automotores (46% do total), seguido de máquinas e equipamentos (9%) e minérios (5%).
Fonte: FIESC
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