Produção industrial da cidade VAI ALÉM dos tradicionais tubos, blocos de motores e compressores para refrigeração.
Joinville é conhecida pela força econômica de seu parque industrial. Produtos como tubos e conexões, blocos de motores e compressores para refrigeração são alguns dos mais lembrados. Só que eles não representam tudo o que a cidade produz. Há uma gama de empresas de pequeno, médio e grande porte espalhada pelo município, desde empreendimentos genuinamente joinvilenses a unidades de multinacionais.
O Perini Business Park, no Distrito Industrial, é um caso emblemático. O maior condomínio multissetorial do Brasil tem mais de 2,8 milhões de m² de terreno e abriga dezenas de empresas de diversos setores, como o metalmecânico, plástico, automobilístico, agroindústria, construção civil, eletrônico, elétrico, químico, logístico e metalúrgico e também empresas dos setores financeiro, comercial e de serviços.
E é lá dentro do condomínio que uma discreta placa identifica a localização da multinacional francesa Allflex, especializada em identificação de animais. Seus produtos chegam aos peixes da Amazônia e aos crocodilos da Colômbia, mas, em Joinville, é mais fácil reconhecê-los nos “brincos” das vacas. A identificação do gado é obrigatória e os produtores sabem muito bem que o acessório colorido não está ali para enfeite. Ele permite rastrear o histórico do animal, o que é crucial para o controle sanitário.
Fora do condomínio, outra empresa, a Spansul, fabrica golas de camisa. Mas por que só a gola? Para tudo existe um mercado, e esta pequena empresa joinvilense cumpre seu papel na cadeia têxtil. Depois de percorrer quilômetros e trocar de mão algumas vezes, é bem provável que algumas delas estejam agora dentro de seu guarda-roupa.
Visão empreendedora
Ademir Gomes era um vendedor de teares em São Paulo quando percebeu a oportunidade de abrir uma fábrica de golas de camisa. Golas e punhos geralmente são confeccionados por empresas terceirizadas e a Spansul, de Ademir, está entre as três maiores do Brasil no segmento. As outras duas também ficam em Santa Catarina, nas cidades de Blumenau e Schroeder.
A produção é de aproximadamente 1,5 milhão de peças por mês, sendo que quase 90% do volume são destinados a camisas polo. Quem tem uma talvez vista um produto feito na rua Anaburgo, em Joinville. Entre os clientes da Spansul estão fornecedores da Adidas e da Nike. Os projetos atuais incluem a gola das camisas oficiais do Flamengo e do Grêmio.
Para se manter no mercado, Ademir sabe que deve conseguir entregar grandes volumes. Mas o que o difere e, ao mesmo tempo, o protege dos chineses é justamente o oposto: a possibilidade de oferecer rapidamente produtos com qualidade e diversidade em quantidades menores, já que o mercado da moda tem se sofisticado e lança várias coleções durante o ano. A empresa também presta atenção à evolução dos materiais na indústria do vestuário e aposta em teares capazes de trabalhar com fios cada vez mais finos.
Quando abriu as portas, em 1998, o galpão abrigava somente três máquinas. Hoje, são 63 teares, e outros 21 vão entrar em operação quando o novo galpão ficar pronto no final do ano, aumentando de 350 m² para 720 m² a área construída. A Spansul também tem investido na melhoria de processos e até patenteou dois mecanismos.
Uma deles aposentou de vez a máquina responsável por lubrificar o fio antes de ser colocado no tear. Desde 2012, a lubrificação acontece simultaneamente à produção, no próprio tear. Com isso, a empresa reduziu quase pela metade o consumo de energia elétrica, uma economia de R$ 10 mil por mês.
O outro mecanismo permite que, com o apertar de um botão, as peças sejam enroladas automaticamente na saída do tear. Antes, o funcionário tinha que se ajoelhar para realizar a tarefa manualmente.
As novas máquinas e melhorias de processo reduziram de 23 para 15 os postos de trabalho, mas, quem ficou, foi recompensado. A companhia eliminou os turnos de produção dos finais de semana e elevou o salário das funções de base para um patamar acima da média do mercado. Recebeu de volta algo valioso nestes tempos, a permanência do empregado. Rotatividade não é mais um problema na Spansul.
Embalagem inteligente
Que uma embalagem atraente pode determinar a compra de um produto, todos sabem. Só que, às vezes, ela pode ser projetada, também, para manter algumas pessoas distantes da prateleira. Foi o que aconteceu com uma das embalagens produzidas pela AB Plast, um discreto parque fabril localizado no Centro de Joinville.
O potinho tem um baixo relevo para colocação do sensor de alarme. O mecanismo, patenteado pelo cliente, passa despercebido pelo consumidor e, na tentativa de roubo, faz disparar o detector no ponto de venda. O design inteligente reduziu o índice de roubo e, claro, fortaleceu o relacionamento entre a indústria e o comércio.
Cada embalagem tem suas particularidades de design, pigmentação e resina plástica. O tipo de produto que vai no interior interfere na escolha, bem como a estratégia de marketing do cliente, explica o presidente da companhia, André Bornschein Silva. Da fábrica de 6,7 mil m² e 350 funcionários saem embalagens para um segmento apreciado pelas mulheres: a indústria de cosméticos, carro-chefe da produção.
A AB Plast fornece recipientes para cremes, xampus e protetor solar, entre outros produtos de várias marcas famosas, como Natura, Avon, Boticário, L’Oreal e Jequiti. Da mesma família do Laboratório Catarinense, a indústria de embalagens foi fundada em 1982 fornecendo exclusivamente para o laboratório e, em 1987, abriu-se para o mercado. Hoje, menos de 5% da produção de 170 milhões de unidades é destinada aos negócios da família.
O investimento em tecnologia é fundamental para a sobrevivência do negócio. A AB Plast foi a primeira no Brasil a ter, em 1994, uma máquina para fazer embalagens PET, aquelas que se caracterizam pela transparência, brilho e dureza e lembram o vidro. Hoje, são 15 máquinas com esse fim. A companhia também foi a primeira a usar PET reciclado no próprio processo produtivo e o volume já alcança 30% do material utilizado na produção das embalagens deste material.
Dando nome aos bois
Um vaca pastando com um brinco amarelo pode até ficar charmosa, mas o acessório tem uma função bem mais nobre. Ele é vital para a economia de Santa Catarina. Trata-se de um identificador obrigatório e utilizado para monitorar o gado catarinense. Se o animal fica doente, é preciso saber por onde ele passou e isolar estes locais.
O Estado está livre da febre aftosa sem vacinação e uma das medidas importantes para proteger o mercado suíno e de aves é monitorar o gado bovino. Ele é quem troca de dono mais vezes, sendo deslocado para mais longe – portanto, é o principal transmissor da doença. Um foco de febre aftosa pode impactar 600 mil pessoas que dependem dessa cadeia. No Brasil, a legislação obriga a identificação para aqueles que exportam para a União Europeia.
Antigamente, a placa era toda de metal, só que o animal ficava mais vulnerável a infecções e não era muito fácil de ler o que estava escrito. Com o tempo, a placa evoluiu para o plástico, e foi nessa contexto que a francesa Allflex chegou ao Brasil. Em 1984, instalou-se em São Paulo e, em 2002, mudou-se para Joinville. Hoje, a empresa é líder nacional no segmento.
Instalada dentro do Perini Business Park, a Allflex tem 120 funcionários. O diretor geral, Julio Ribeiro, explica que a produção de 180 milhões de placas de identificação não é só para gado. Peixes na Amazônia e crocodilos na Colômbia também usam seus brincos. Para o gado, as placas manuais, com números de controle, são feitas em Joinville. A unidade também tem planos de produzir placas com chipe eletrônico até 2016. Hoje, esses produtos são feitos apenas na matriz francesa.
Fonte: A Notícia – Negócios & Cia.
Simpesc nas redes sociais