1.  
  2.  
  3.  
  4.  
  5.  
  6.  
  7.  
  8.  
  9.  
  10.  
  11.  
  12.  
  13.  
  14.  
  15.  
  16.  
  17.  
  18.  
  19.  
  20.  

Contratar não, INCLUIR. Embraco, Totvs, Uniplast e as conquistas de uma GESTÃO sem preconceitos

09 de julho de 2013
Contratar não, INCLUIR. Embraco, Totvs, Uniplast e as conquistas de uma GESTÃO sem preconceitos

Passadas duas décadas da instituição da lei de cotas para pessoas com deficiência, o desafio da inclusão persiste tanto para trabalhadores quanto para empresas. A legislação garantiu que esta parcela da população tivesse acesso ao mercado de trabalho, mas as organizações ainda não sabem como construir uma carreira para estes profissionais, analisa o professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), João Baptista Brandão.

Na região Norte do Estado, a consultora de responsabilidade corporativa do Sesi Joinville, Luzia Longo, observa que as melhorias vêm ocorrendo principalmente no processo de contratação. Se no início da vigência da lei as empresas abriam vagas especificamente para deficientes e somente para o setor produtivo, não importando a qualificação, agora já é possível encontrar algumas oportunidades em outras áreas.

Na Totvs, em Joinville, por exemplo, o professor de educação física e atleta Aldo Pavesi (ao centro na foto) trabalha no setor de recursos humanos, sendo um dos responsáveis técnicos pela ginástica laboral na companhia.

– A deficiência deixou de ser a única referência sobre mim – explica o funcionário, que é cadeirante.

A assistente social do setor psicossocial do Sine de Joinville, Jane Lizete Keske Altmann, diz que, em seis anos trabalhando com pessoas com deficiência, percebe avanços e muito ainda a ser conquistado, como uma melhor acessibilidade. Para ela, o preconceito ainda impera na sociedade.

Casos como o da Embraco e seu programa completo de inclusão, ou do analista de suporte da Totvs, Edmilson Luiz Amaral, que ouviu do empregador que estava sendo contratado pela competência, não pela cota, e seria cobrado como todos os demais, ainda são exceções no mercado de trabalho.

Gestão inclusiva

Empresas mostram que contratar pessoas com necessidades especiais pode trazer mais eficiência

A inclusão de profissionais com deficiência ainda é cercada de mitos. A consultora social do programa de inclusão do Sesi, Izabel Câmara, e a consultora de responsabilidade corporativa da entidade, Luzia Longo, explicam que um dos erros mais comum é o empregador achar que o trabalhador com deficiência produz menos e que vai onerar as equipes. Na verdade, o problema está na empresa, que não soube identificar a incompatibilidade de função durante a seleção.

Associar os profissionais com deficiência só a produção é outro erro. Elas afirmam que a cada vaga aberta, em qualquer hierarquia, deve-se contemplar a oportunidade de ser preenchida por um profissional com deficiência. E, na contratação, fazer uma análise do potencial de desempenho do candidato.

Após a efetivação, os cuidados continuam. A coordenadora da Associação para Integração Social de Crianças e Adultos Especiais (Apiscae), Sandra Maria Pedrelli, diz que cumprir a cota é diferente de incluir. Para ela, é fundamental investir em palestras de sensibilização com as equipes e acompanhar a fase de adaptação. Para Luzia, quando se coloca a pessoa certa no lugar certo, a empresa pode e deve cobrar os resultados.

Atitudes como estas podem ajudar os gestores a se adaptarem aos novos tempos. Os profissionais já começaram. Izabel diz que o perfil do trabalhador com deficiência começa a mudar com a busca pela qualificação. Isto aumenta a autoestima e gera mais expectativas e ambições.

– Há seis anos, as empresas buscavam os profissionais só nas instituições. Agora, orientamos as organizações a recrutarem no mercado, divulgando a empresa para que ela se torne atraente para os profissionais.

Em SC, são 15.594 profissionais com deficiência no mercado de trabalho. Joinville lidera com 28%, ou 4.380 profissionais com deficiência, segundo dado da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), de 2011 (último tabulado). O Estado segue a tendência nacional ao empregar, principalmente, aqueles com deficiência física e ensino médio.

No Brasil, os rendimentos médios destes profissionais foram de R$ 1.891,16, pouco menores que a média dos ganhos do total de vínculos formais (R$ 1.902,13). No País, os trabalhadores com deficiência respondem por 0,7% do total de vínculos empregatícios.

Ação três em um

A preguiça de fazer ginástica laboral é comum nas empresas, mas os funcionários da Totvs desenvolveram uma forma diferente de conquistar a adesão geral: todos os instrutores têm algum tipo de deficiência. É um programa três em um. Além de incentivar a participação na ginástica, contribui para deixar o clima alto astral e sensibiliza os funcionários para a questão da deficiência. Os dois responsáveis técnicos têm formação superior em educação física e os demais são atletas de alto rendimento ou com afinidade com atividades físicas.

Os instrutores são criativos. Todas as quintas-feiras, vestem-se a caráter para as aulas temáticas. Nesta semana, o tema foi a natação. Às terças, a equipe traz materiais como bolas e outros recursos para variar as atividades. O professor de educação física, Aldo Pavesi, 36 anos, é um dos responsáveis técnicos e idealizadores da atividade. Atleta do time de basquete de Joinville em cadeira de rodas, trabalha há dois anos na Totvs e diz que o exemplo de superação é o que mais estimula o grupo.

– O contato diário com eles na ginástica faz com que os participantes lidem com maior naturalidade com a deficiência. As pessoas que compõem o grupo de ginástica já enfrentaram muitos obstáculos e são atletas paraolímpicos. Falam, explicam e lidam com a deficiência com muita tranquilidade – complementa a coordenadora de relações humanas da unidade Joinville da Totvs, Joice Deschamps de Carvalho.

O grupo de ginástica laboral também participa do programa de inclusão da unidade. Ele palestra sobre os tipos de deficiência, como tratar cada uma delas, contam suas experiências e abordam a importância de as pessoas que os rodeiam estarem preparadas para lidar com a situação. A fala é para os líderes de todos os níveis da empresa e para os participantes de todas as áreas.

Reconhecimento profissional

O auxiliar de produção Pedro Vitor de Souza da Silva, 26 anos, nasceu totalmente surdo após a mãe ter rubéola durante a gestação. Em 2011, ingressou na Uniplast, indústria de perfis termoplásticos de Joinville. Esta não é sua primeira experiência profissional, mas diz ser a que mais gosta. Ao terminar recentemente o curso de moldador de plástico, recebeu proposta para trocar de emprego e ganhar mais, só que ele preferiu ficar por se sentir bem ali.

O coordenador de gestão de pessoas, Rosalvo Lima Borba, atribui a satisfação de Pedro ao fato de executar uma função adequada ao seu perfil profissional e por ter recebido apoio da família, que acompanhou de perto a fase de adaptação, sendo até intérprete.

A empresa mantem contato periódico com os familiares dos profissionais com deficiência. Como a Uniplast não tem intérprete de libras, o bloco é o companheiro inseparável de Pedro, que realiza uma atividade cujo aprendizado é bastante visual. O supervisor, Osni Steiner Jr., diz que, para aprender novas tarefas, Pedro observa como ele faz primeiro. Foco, capacidade de observação, conhecimento técnico e a determinação o tornam um funcionário destacado, com potencial de crescimento na carreira, segundo Osni.

Com 216 funcionários, oito deles com algum tipo de deficiência, a Uniplast ultrapassou em um profissional a cota estipulada em lei. A esposa de Pedro, também com deficiência auditiva, será a próxima contratação da empresa.

Programa referência

A Embraco tem um programa de gestão inclusiva desde 2007. Na última seleção, o Talentos da Diversidade abriu 20 vagas e registrou 39 inscritos. O início exigiu esforços em estrutura, como construção de rampas; serviços, há transporte para pessoas com mobilidade reduzida; e na cultura da organização. Hoje, são 352 funcionários com necessidades especiais: 153 com deficiência física, 109 auditiva, 14 visual e 49 intelectual.

O gerente de recursos humanos da empresa, Edemilson Barbosa, e a coordenadora do programa, Viviane Araújo, explicam que eles atuam em todas as áreas, podem chegar a todos os níveis e são contratados de acordo com a competência.

– Eles passam por um processo de seleção, com concorrência. Queremos tratar todos da mesma forma – diz Barbosa.

Viviane diz que 185 pessoas já passaram pelo programa, que conta com uma rede de apoio: empresa de libras; serviço social para ajudar a lidar com as famílias (esencial para a retenção); psicólogos que traçam os perfis e como eles podem ser melhor aproveitados; e consultorias de gestão de processo.

– Nossos principais ganhos são o aprendizado organizacional e o reconhecimento da comunidade e dos funcionários – diz.

A deficiência visual parcial nunca atrapalhou Aline Defreyn, 27 anos, que usa lentes de aumento e precisou de um monitor maior quando foi contratada. A psicóloga se tornou auxiliar administrativa por meio do programa que hoje ajuda a coordenar.

Entrevista: Aposta na nova geração

Sendo professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), atividade que divide com o coaching para executivos, João Baptista Brandão acompanha como o processo de inclusão de pessoas com deficiência impacta nas empresas. Para ele, se esta geração de lideranças abriu as portas forçada pela lei, a nova deverá promover as mudanças mais significativas, como explica nesta entrevista exclusiva.

A Notícia – Como ocorreu o acesso das pessoas com deficiência ao mercado após a instituição da lei de cotas? Houve avanços desde então?

João Baptista Brandão – No início, as pessoas com deficiência foram forçadas a se ajustar a um mundo que não estava preparado para elas. As empresas consideraram a abertura das vagas como caridade e um benefício. Quando você mostra que está fazendo uma atitude beneficente, não está inserindo. Ainda não há um acolhimento efetivo. É visto como o atendimento à lei. As empresas ainda não encontraram os mecanismos para que os profissionais com deficiência tenham uma trajetória plena.

AN – Isso vai mudar? Como?

Brandão – As empresas querem que seus funcionários sejam inovadores. Minha expectativa é de que a métrica vai mudar, valorizando a geração de ideias. Assim, aqueles com limitação física, por exemplo, poderiam encontrar espaço nas organizações. A evolução ocorre mais por saltos do que por melhorias incrementais. Há uma pressão represada por soluções para problemas que não podem ser adiados. As mudanças estruturais não serão para todos os setores, mas as empresas devem estar praticando novos modelos no prazo de cinco anos. Os novos gestores trazem um novo olhar, não oferecem resistência, são estimulados a quebrar os padrões.

Fonte: A Notícia – Negócios & Cia.

 
 


somos afiliados: