1.  
  2.  
  3.  
  4.  
  5.  
  6.  
  7.  
  8.  
  9.  
  10.  
  11.  
  12.  
  13.  
  14.  
  15.  
  16.  
  17.  
  18.  
  19.  
  20.  

Revolução silenciosa na COLETA SELETIVA

10 de junho de 2013
Revolução silenciosa na COLETA SELETIVA

Mesmo sem aumento do número de caminhões ou de rotas pela cidade, o volume de resíduos recolhidos cresceu 104% nos últimos dois anos em Joinville

Dez anos depois de ser colocada em prática em Joinville, a coleta seletiva de lixo parece estar apontando para o que os especialistas chamam de uma mudança de cultura. Os sinais dessa revolução silenciosa aparecem nos números.

A média mensal de resíduos coletados mais que dobrou nos últimos dois anos, sem que houvesse mais caminhões nas ruas ou novas rotas pela cidade. Em 2011, foram retiradas das ruas, em média, 496 toneladas por mês. Nos primeiros meses de 2013, o volume chegou a 1.013 toneladas de lixo que, em vez de ir para o aterro sanitário, vão para a reciclagem. Um crescimento de 104%.

Na avaliação da empresa que faz a coleta na cidade, a Ambiental, o aumento do número de famílias que estão adotando a separação dos resíduos é resultado de dois fatores: dos trabalhos de educação ambiental feitos nas escolas e de campanhas publicitárias. “É como um trabalho de formiguinha. As crianças, em casa, cobrando dos pais. E as campanhas que atingem um grande número de pessoas”, diz o gerente da empresa, Luiz Antônio Correa Weinand.

O mesmo salto não é percebido com a coleta de lixo, que é feita diariamente e vai direto para o aterro sanitário. Nos últimos três anos, o volume de lixo aumentou pouco mais de 1% ao ano. Eram 9,72 mil toneladas por mês em 2011. No primeiro quadrimestre de 2013, a média ficou em 10,20 mil toneladas/mês – um aumento de 3,55%. “Sabemos que os números de 2013 devem diminuir um pouco até o fim do ano, o que é normal. É muito significativo o aumento que houve com a coleta seletiva”, diz.

Edson ganha mais com a reciclagem

Em um galpão de pouco mais de 300 metros quadrados, no bairro Fátima, zona Sul de Joinville, o aposentado Edson Nunes, 61 anos, está entusiasmado com o resultado do trabalho na cooperativa. Ele e outros nove cooperados passam até oito horas por dia debruçados sobre uma bancada, separando os resíduos.

“Não é fácil encontrar pessoas que queiram trabalhar. Mesmo com uma renda considerada alta para a atividade”, diz Ricardo Schelbauer, presidente da Recicla, uma das 13 cooperativas de reciclagem de Joinville.

A Recicla foi uma das primeiras a organizar os catadores no começo dos anos 2000. Enfrentou inúmeros problemas, como a falta de material, ambientais e até dívidas com tributos. Funcionou por alguns anos na rua Aubé, se reinventou e hoje todos trabalham na zona Sul.

O entra e sai de caminhões é intenso – com cargas de lixo para ser separado ou em busca dos fardos já compactados de matéria-prima para a indústria. O ritmo de separação é acelerado. Nada que canse seu Edson. “Trabalhava num estacionamento, mas ganho mais aqui”. Na divisão do dinheiro, Edson não sai com menos de R$ 1 mil todo mês. “Limpo”, faz questão de explicar. O rendimento depende do volume separado e vendido. Menos dias trabalhados, menos dinheiro no bolso no fim do mês.

Comida na mesa para centenas de pessoas

Além de evitar que os resíduos acabem no aterro sanitário, a coleta seletiva é importante para centenas de pessoas que vivem do transporte, carregamento, limpeza, separação e reciclagem do lixo. Há pelo menos 140 pessoas só nas 13 cooperativas de reciclagem. E outras centenas de carroceiros que trabalham individualmente.

Este, aliás, é um dos conflitos que já estão superados. Há algum tempo, moradores de Joinville reclamavam que os carroceiros passavam antes do caminhão para levar o lixo seco. “Não há problema. Os resíduos vão para a reciclagem também. E tudo o que for feito para impedir que esse material vá parar no aterro é importante”, diz o gerente da Ambiental, Luiz Antônio Correa Weinand.

Um dos problemas enfrentados no sistema de coleta seletiva, segundo o engenheiro sanitarista Pedro Ivo Barnack, da Seinfra, é que junto ao material reciclável ainda há muitos rejeitos (resíduos que não são recicláveis, mas também não são orgânicos, como aquelas embalagens de presunto, mortadela e queijo ou restos de tinta). Este material precisa ser separado e vai para o aterro.

Um segundo problema são os espaços para as cooperativas. Algumas estão trabalhando em pequenos galpões, sem condições ideais de estocagem. A Prefeitura estuda reunir algumas associações em espaços maiores.

Brasil deixa de gerar até R$ 6,6 bilhões por ano

A cada dia, mais brasileiros se esforçam para conjugar os três verbos essenciais da sustentabilidade – reutilizar, reciclar e reduzir. Mas, apesar da conscientização crescente, muita riqueza ainda fica dentro de sacos de lixo, caixas de papelão e sacolas de supermercado usadas.

Conforme estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), caso todo resíduo reaproveitável atualmente enviado a aterros e lixões em todo o País fosse reciclado, a riqueza gerada poderia chegar a R$ 8 bilhões anuais. Desse montante, porém, um valor muito menor – entre R$ 1,4 bilhão e R$ 3,3 bilhões anuais, – transforma-se em ganhos para os segmentos econômicos cujas matérias-primas são capazes de retroalimentar o ciclo produtivo.

Assim, o Brasil deixa de gerar anualmente entre R$ 4,7 bilhões e R$ 6,6 bilhões em razão de falhas em todas as etapas do processo – da má separação do lixo por parte da população à não utilização dos resíduos orgânicos na geração de energia. Mas há estudos que apontam para perdas ainda maiores do que as indicadas pelo Ipea.

“Com exceção do alumínio, nossos índices de reciclagem são muito pequenos. Pior do que a baixa reciclagem é a destinação dos resíduos. A maioria dos municípios ainda tem lixões, onde tudo é descartado, não reaproveitado como resíduo que tem valor”, diz Dalberto Adulis, gerente de conteúdo do Instituto Akatu.

Segundo André Vilhena, diretor do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), apesar do aumento na participação da população nos programas de coleta seletiva, via de regra os sistemas municipais têm falhas de planejamento, gerando desperdícios para o processo. Como resultado, a indústria recicladora não opera a pleno vapor, com índices de ociosidade entre 20% e 30%.

“Mais prefeituras precisam instituir a coleta seletiva. Além disso, temos de estimular a indústria de reciclagem e rever o aspecto tributário que atrapalha essa indústria, aumentando a capacidade instalada e permitindo a expansão do parque de reciclagem do País”, opina Vilhena.

Fonte: AN – Destaque

 
 


somos afiliados: