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Precariedade da educação afeta produtividade do trabalhador brasileiro, afirma José Pastore

17 de julho de 2012
Precariedade da educação afeta produtividade do trabalhador brasileiro, afirma José Pastore

Especialista diz que empresas procuram profissional com bom senso e raciocínio lógico

José Pastore é apontado como a maior autoridade brasileira quando se trata de mercado de trabalho. Os principais debates nacionais sobre o tema contam com a participação do homem que tem formação em sociologia, foi professor na Faculdade de Economia e Administração da USP e é membro da Academia Paulista de Letras. Nesta segunda-feira, ele estará em Florianópolis para participar de um evento na Federação das Indústrias  de Santa Catarina (Fiesc).

A Jornada Inovação e Competitividade da Indústria Catarinense vai até a sexta-feira e recebe os principais empresários do Estado para discutir assuntos estratégicos que têm potencial de alavancar o desenvolvimento industrial. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site www.fiescnet.com.br/jornada.
José Pastore, hoje pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), vai falar sobre a educação básica como fator de competitividade para as empresas.

Diário Catarinense — Qual o nível de formação do trabalhador brasileiro?

José Pastore — O Brasil fica devendo porque o nível de educação do trabalhador brasileiro não é bom. Isto causa perda de produtividade e, na comparação com outros países da América Latina, ficamos devendo. Estamos atrás do Chile, México, Venezuela, Uruguai e tantos outros. Se nós formos comparados aos países europeus, a distância fica ainda maior.

DC — Qual o impacto na produtividade das empresas?

José Pastore — As pessoas têm tendência de relacionar a produtividade com máquinas, mas ela passa também pelos funcionários porque o trabalhador qualificado faz mais usando menos insumos.

DC — Como essa distância em relação aos outros países pode ser diminuída?

Pastore — Não é um processo simples nem rápido. Eu acredito que pode ser acelerado com determinadas deliberações. A principal é lançar um programa continuado de educação que tenha estabilidade. Não pode ser um projeto para este ou aquele mandato. Nem um programa para ser vendido no horário eleitoral. Deve ser um programa para ser levado avante através de gerações. Se nós usarmos intensamente as novas tecnologias de ensino, principalmente da internet e das telecomunicações, poderemos acelerar o processo. E isso é necessário quando estamos numa corrida em direção a um ponto móvel, caso atual.

DC — Quanto tempo demoraria para atingirmos um nível educacional adequando?

Pastore — A Coreia do Sul fez um programa para ser desenvolvido ao longo de 50 anos. Atingiu seus objetivos muito antes disso. Acontece que no começo não existiam as técnicas modernas de pedagogia ligadas à internet e à telecomunicação. De modo que se a Coreia em 30 anos conseguiu dar uma boa educação a todos os seus cidadãos eu acredito que o Brasil talvez em 15 anos ou 20 anos consiga fazer isso nos dias atuais.

DC — Como a má qualidade da educação básica e a baixa produtividade do trabalhador se refletem nos índices de crescimento do país?

José Pastore — O reflexo é praticamente instantâneo. Quando você tem baixa produtividade no trabalho você tem uma baixa competitividade das empresas e dos produtos brasileiros. Com isso você perde market share (participação de mercado). Com menos vendas, você desenvolve menos, cresce menos e fica para trás em relação a outros países. Portanto, a boa educação permite alavancar a produtividade, participar mais do mercado, ganhar market share e ter desenvolvimento mais efetivo.

DC — É comum ouvir empresários reclamando das desvantagens do país. Isto inclui a precariedade da educação?

José Pastore — As pesquisas que eu tenho realizado com empresários estão indicando que eles classificam a má qualidade do ensino entre os principais fatores que afetam a competitividade. Está se formando uma consciência clara  entre estas pessoas sobre a importância da educação no crescimento das empresas que administram e no progresso individual.

DC — E existe algum setor no Brasil que seja exemplo em formação profissional e serve de modelo para ser copiado?

Pastore — Nós tivemos no Brasil grandes investimentos em educação na área de petróleo e gás. Isto desde a fundação da Petrobras. E a companhia hoje é uma das empresas líderes do mundo. Nós tivemos também uma articulação de professores universitários brasileiros com professores estrangeiros no campo da aeronáutica, da construção de aviões. E o Brasil, com a Embraer, hoje está liderando a produção de aviões de pequeno e médio porte. São exemplos como estes que mostram que a educação dá certo e é indispensável.

DC — O que precisa ser ajustado no ensino?

Pastore — O mercado busca um profissional que tenha bom senso, lógica de raciocínio e saiba se comunicar. Saiba ler, escrever e entender o que lê. Saiba trabalhar em grupo, domine mais de uma língua, além da informática. Uma pessoa que conheça bem o seu ofício, a sua profissão. Então, o mercado de trabalho não está procurando apenas um especialista, mas  buscando aquele profissional que  possui uma sólida base no ensino fundamental. Porque ter um bom raciocínio, lógica de raciocínio, ter bom senso, saber trabalhar com informações, saber se comunicar, escrever um bom português, isto depende muito da educação básica. O mercado trabalho espera sobretudo é que o alicerce da educação dos trabalhadores esteja sólido e bem formado.

DC — Da maneira como as decisões são tomadas hoje, como o senhor projeta as próximas décadas?

Pastore — Eu acho que estamos melhorando, mas o ritmo precisa ser acelerado. O Brasil está tomando consciência de que educação é tão importante quanto o capital físico. Acredito que o país vai acelerar os processos.

Fonte: Diário Catarinense

 
 


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